10 Anos: Dom Franco Masserdotti, Sinal para Hoje
Dom Franco Masserdotti, missionário comboniano, trabalhou em Balsas, Maranhão. Nos últimos anos, a sua vida foi marcada pela defesa dos direitos humanos e dos povos indígenas (CIMI) e pela defesa da família e da justiça social. Veja o Documentário…
No dia 17 de Setembro de 2016 faz 10 anos que morreu, em Balsas, Maranhão o bispo daquela diocese, então presidente do CIMI, conselho indigenista missionário.
Acreditava na força transformadora do Evangelho, mas somente e quando a fidelidade a Cristo passasse pela fidelidade aos pobres. Considerava-os um “lugar bíblico”, porque o Deus da vida escuta o grito deles por libertação, como uma palavra sagrada.
Insistia que além de dar um peixe e de ensinar a pescar, é necessário “limpar o rio” contaminado pela injustiça social.
“Dom Franco conseguia ser ao mesmo tempo bispo e irmão”, recorda dom Pedro Casaldáliga, outro grande mestre de vida para nossa igreja brasileira. “Estava à vontade com toda a gente, mas especialmente com os inquietos e com os sonhadores”.
Começou cedo a sonhar e, já padre, reuniu seus sonhos à volta da visão de uma nova sociedade. Estudou sociologia em Trento nos anos 60. Lá, comenta um jornalista, “como te tivesse tocado um misterioso batuque, todos os aventureiros, os utopistas, os deslocados, os irrequietos do país tivessem marcado encontro”.
Depois de um primeiro período de 8 anos de missão inserida, foi-lhe confiado o encargo de acompanhar e orientar o instituto dos Missionários Combonianos, primeiro como conselheiro geral em Roma e depois como coordenador provincial no Brasil. Com criatividade e envolvendo todos, abriu para o instituto e para a igreja brasileira novas portas em todas as áreas: da animação missionária e da missão itinerante, da formação popular e da política, da comunicação, da pastoral e da teologia dos povos indígenas…
Durante as celebrações dos 500 anos da “descoberta” do Brasil, no ano 2000, os povos indígenas organizaram uma grande conferência em Porto Seguro, Baía, lugar do primeiro desembarque dos invasores portugueses. 4000 indígenas, em marcha pacífica, foram barbaramente atacados pela polícia, que queria dispersá-los antes que ‘estragassem’ as celebrações oficiais. Dom Franco, presidente do Conselho Indigesta Missionário da Conferência Episcopal Brasileira, tentou mediar o conflito e acabou por ser também preso, durante cinco horas.
Passaram mais de 15 anos, mas ainda hoje as agressões aos povos indígenas imitam a lógica colonial de há cinco séculos. Em Junho deste ano, um numeroso grupo de indígenas Guarani-Kaiowá do estado do Mato Grosso do Sul reivindicavam algumas terras ancestrais onde estavam acampados. Um grupo de pessoas armadas (há fortes indícios de que se tratava de paramilitares contratados pelos fazendeiros locais) cercaram eles e começaram a disparar, matando um jovem de 26 anos e ferindo outras seis pessoas, entre as quais um menino de 12 anos. Um mês depois, na mesma região, um ataque semelhante feriu 3 pessoas do mesmo povo; um dos feridos ainda se encontra em estado grave.
Os movimentos populares e diversos grupos religiosos denunciam há muito tempo a guerra não declarada contra este povo, que é atacado sistematicamente: um autêntico processo de genocídio, com garantia de impunidade completa.
Dom Franco, que experimentou na pele as queimaduras desta violência sem rosto, nos provocaria a buscar sinais de esperança. Eis aqui um, diretamente da bacia amazónica – rio Tapajós: o povo Munduruku exige que o governo federal reconheça formalmente o seu território; deste modo, teria muito mais força para se opor aos numerosos projetos de usinas hidroelétricas que ameaçam alagar uma boa parte dessa região.
Insatisfeitos com a inércia e com os interesses tortuosos dos partidos no governo, os Munduruku começaram um projeto de “auto demarcação”. Desenham eles próprios o mapa do seu território, reafirmando assim desde baixo a autoridade de demarcar as fronteiras, partindo do conhecimento do território, preservando os lugares da pesca tradicional, da caça e da recolha dos frutos na floresta, das aldeias e dos campos cultivados manualmente.
A história pode ser escrita de novo, se damos voz à “palavra sagrada dos pequenos”.
Pe. Dario Bossi, missionário comboniano
Pe. Paulo Suess, assessor teológico do CIMI, fez uma declaração para este aniversário, declaração esta que foi subscrita e divulgada por Dom Roque Paloschi, Bispo da Arquidiocese de Porto Velho e atual presidente do Cimi.
Para além do seu importante trabalho como pastor, marcado pelo seu mote: “Para que tenham vida” ele soube pautar toda a sua vida e trabalho pela defesa dos direitos humanos e em especial dos povos indígenas e dos excluídos.
Remarcamos umas poucas palavras finais, referidas por Paulo Suess e Dom Roque, em sua declaração: “Querido D. Franco, (…) a partir das suas balsas você sempre olhou para além-fronteiras e para a terra firme que agora alcançou. Novamente é sua vez de interceder ao lado do companheiro-mártir de sua congregação, Pe. Ezequiel Ramin, e face a face com o bom Deus pela iluminação das nossas pastorais e pela firmeza nossa na defesa dos povos indígenas!”