Ezequiel Ramin, compromisso com Deus e com o seu Reinado
A vida do servo de Deus desde cedo foi marcada pela honestidade, seriedade e entrega. Esses valores ele os aprendeu muito cedo em casa, diretamente com papai e mamãe. Já na juventude e seguidamente na formação, o Ezequiel deu sinais de seu compromisso com a justiça e com a verdade. O sinal mais claro foi seu envolvimento com o movimento de solidariedade ‘Mãos Estendidas’. Ezequiel Ramin é um exemplo claro daquilo que o papa Francisco pediu aos jovens: «…Ao mesmo tempo temos que ousar ser diferentes, mostrar outros sonhos que este mundo não oferece, testemunhar a beleza da generosidade, do serviço, da pureza, da força, do perdão, da fidelidade à própria vocação, da oração, da luta pela justiça e pelo bem comum, do amor aos pobres, da amizade social”. (Christus vivit, 36)
O pe. Ezequiel Ramin, especialmente após a sua chegada ao Brasil no início de 1984, aprofundou a missão estudando e rezando, porque cedo todo missionário-a aprende que sem oração não tem jeito de de sustentar e muito menos poderá caminhar em fidelidade. Ele, integrado na diocese viveu sua missão como uma vocação, e um chamado que o aproximou do coração de Deus, e por isso mesmo ele aprendeu a se doar aos mais pobres, aos indígenas Suruí e Cinta Larga e aos sem terra, através de um serviço de solidariedade expresso em lutas que o comprometeram e o levaram a uma entrega sem limites. Jamais ficou indiferente diante do irmão nem da irmã que sofria. Tal compromisso com a dor o proibia de se habituar ao absurdo da violência e da morte.
Em Cacoal e na Rondônia em geral são visíveis diversos movimentos e obras que, para além do nome, tomaram sua inspiração da vida e do testemunho do padre Ezequiel Ramin. As causas dele e de tantas e tantos mártires, quase todos anônimos, continuam fazendo a diferença para muitas pessoas, em especial, os indígenas e camponeses. Para estes, o reino de Deus faz sentido porque elas e eles podem seguir lutando por vida, dignidade e direitos para todos. Falando somente da diocese de Ji-Paraná, encontramos exemplos como:
- O Instituto Padre Ezequiel Ramin (IPER)
- As Escolas Famílias Agrícolas (EFAs)
- O Movimento Sem Terra (MST), etc.
Em outros quadrantes e realidades, muitos missionários e missionárias continuam se envolvendo diretamente e em primeira pessoa com as dores e lutas pela justiça, pela paz e… pela vida. As e e os mártires continuam perdendo suas vidas, quando buscam e defendem direitos, dignidade e vida plena para si e para tantas pessoas a quem simplesmente é negada a Vida, juntamente com todos os bens. Como não recordar as pessoas de todas as idades aprisionadas e enjauladas no tráfico humano e de órgãos, no garimpo e nas minas, na migração em todos os continentes, etc, etc.
Nos anos de 2001 a 2023, o número total de agentes pastorais mortos foi de 564. O Papa tem repetido a convicção de que os mártires “são mais numerosos” na atualidade do que nos primeiros séculos do Cristianismo, falando num “ecumenismo de sangue”. Cada ano, a igreja católica assinala a 24 de março uma jornada anual de oração e jejum pelos missionários mártires, promovida pelo movimento juvenil das Obras Missionárias Pontifícias, no aniversário da morte de Dom Oscar Romero, assassinado em 1980; o arcebispo de San Salvador foi canonizado pelo Papa Francisco, em 2018.
Que a força e o Espírito que moveu o Servo de Deus, pe. Ezequiel Ramin há 39 anos, continue presente hoje em todas estas e outras realidades. Que esse mesmo Espírito posso nos mover hoje para fazermos também nós o que Jesus fez. O mestre de Nazaré continua a chamar-nos para seguirmos atrás dele; hoje toca a nós darmos nossa vida pelos mais pequeninos, os pobres e marginalizados de todos os tempos, quadrantes e latitudes.
João Paulo, comboniano em SP