4 Adolescentes executados: noite sangrenta em Açailândia
REFLEXÃO CRISTÃ SOBRE A VIOLÊNCIA EM AÇAILÂNDIA
Samila, Charles, Darlan e Valdinei. Tinham um nome, não eram somente três rapazes e uma adolescente executados na noite mais sangrenta de Açailândia nos últimos 20 anos.
Talvez alguém deles tivesse envolvimento em atos criminosos. Mas nem isso autoriza a carimbar definitivamente uma pessoa como “bandido”, “vagabundo” ou lixo tóxico a ser eliminado.
Jesus nunca condenou definitivamente ninguém. Teve a coragem de expor sua própria vida para que a toda pessoa fosse sempre oferecida mais uma chance (Jo 8,7).
Quantas mães batalham uma vida inteira para resgatar um filho do caminho errado…
Às vezes esse esforço desumano de amor é ceifado por nosso julgamento, que condena à morte.
A violência não tem limites nem controle. Nesses dias, acabou inclusive arrastando gente que não tinha nada a ver com o acerto de conta, ou o extermínio planejado.
A cidade recomeçou sua vida “normal”, quase como se nada fosse. Acostumada a essa violência, anestesiada. Vários até comentaram com ironia, ou satisfação, como se de fato tivesse sido feita “limpeza urbana”.
Foram trucidados 4 adolescentes, um dia antes e um dia depois da memória de Maria Marta Silva Bezerra, outra adolescente brutalmente assassinada em 2004.
Açailândia dedicou o dia 26 de agosto a ela e à luta contra todo tipo de violência perpetrada contra crianças e adolescentes. Mas ainda não conseguiu controlar a brutalidade e a fome de vingança, que corre escondida no sangue de muito mais pessoas do que parece.
Nesses mesmos dias, o Ministério Público Estadual trouxe à tona novamente outra página vergonhosa da história de nossa cidade: o esquema de exploração sexual de crianças e adolescentes, organizado por pessoas com forte influência econômica, política e institucional em Açailândia.
Os processos criminais contra essas pessoas estão bastante adiantados; apesar do poder deles, sua impunidade está se despedaçando, também graças à insistência da sociedade civil organizada, que se pronunciou com coragem e firmeza.
A Igreja Católica em Açailândia clama contra o silêncio cúmplice de quem considera essa violência normal, ou até justa.
– Por rápidas sentenças definitivas contra os acusados de exploração sexual de crianças e adolescentes.
– Pelo amparo das famílias de todas as vítimas.
– Por investigação aprofundada das execuções sumárias, identificação e punição dos “grupos de extermínio”.
– Contra a cultura da violência e da vingança.
– Por um sistema de justiça eficiente que impeça quem quer “fazer justiça com suas próprias mãos”.
Porque a Igreja é escola de reconciliação e perdão.
Porque não somos cristãos só dentro de nossos templos protegidos.
Porque amar é mais corajoso e resolutivo que matar, com armas ou com palavras.
Açailândia, 02 de Setembro de 2016
Paróquia Santa Luzia
Paróquia São Sebastião