A Autoridade de Jesus
Os escribas desempenhavam um papel muito importantes nas pequenas comunidades da Galileia. A eles competia o dever de explicar as Escrituras, sobretudo na celebração do dia de Sábado. O povo reconhecia a autoridade deles, mas já não prestava muita atenção às suas pregações, quase sempre repetitivas, carregadas de moralismos e cada vez mais cansativas. Suas falas já não surpreendiam ninguém, sobretudo pela interpretação oprimente da lei. Eram enxurradas de palavras que, no lugar de libertar e salvar, só oprimiam. Eram discursos velhos, desgastados pelo tempo, gritados sem serem ouvidos, desmotivados e desmotivantes, incapazes de chegar até o coração das pessoas e estimular a conversão, esvaziados de sentido e, sobretudo, desqualificados pelas incoerências da vida dos pregadores.
É nesse contexto que chega Jesus. O Seu jeito de falar chama logo a atenção das pessoas que frequentam a sinagoga. A Sua Palavra provoca a admiração porque é pronunciada com autoridade, que não tem nada a ver com autoritarismo. É uma autoridade que vem de Deus e que é confirmada pela coerência da vida. Jesus é o que diz. É o Verbo que se faz carne. É a Palavra que acontece amando, libertando e salvando. “Aí está a diferença: palavras ditas por autoridade ou palavras que têm autoridade? Autoridade vem do latim “augere”, que significa aumentar, expandir, promover, abrir novos caminhos, ousar outros começos, despertar novas energias e novas possibilidades. Para nós, a autoridade é estigmatizada pela imagem de conter, frear, colocar estacas, lembrar o código, as coisas de todos os tempos… Mas o que havia de tão diferente naquela palavra dita por Jesus? Era uma palavra que, ao ser pronunciada, cumpria o que dizia: uma palavra que anunciava um Deus diferente, Outro, um Deus que não gosta de ver um homem encurvado em si mesmo, mas – independentemente do sábado – o coloca de volta de pé. A qualquer custo. Uma palavra, a de Jesus, que não acrescentava peso ao peso, cansaço à dificuldade. Uma palavra libertadora sobretudo do medo. Jesus não agiu, atraiu. Não arrebanhou, contagiou. Ele era adepto da vida, não de um papel a desempenhar paras ser visto e admirado. Em sua presença dava para respirar liberdade. Havia algo que atraia: falava de um Deus confiável, um Deus que não é inimigo dos desejos e sonhos do ser humano, que não é aquele que se compraz com a mortificação do homem” (pe. Antônio Savone). É por isso que os espíritos impuros reagem à sua pregação. Ficam irritados com sua presença, pois sentem-se ameaçados. Por muito tempo ficaram sossegados, pacificamente sentados nos bancos da sinagoga sem sentir-se incomodados com a pregação dos escribas que, com suas falas e práticas, acabavam fazendo o jogo deles. O demônio faz isso mesmo. Como fez com Jesus no deserto, manipula a Sagrada Escritura e as estruturas religiosas para possuir as pessoas, para aliená-las, distanciá-las o máximo possível de sua identidade, dos/as outros/as e de Deus, para escravizá-las através da mentira. Usa as pessoas para que reconheçam a identidade de Jesus de boca para fora, mas assumam um estilo de vida totalmente oposto. Separa a fé da vida até contrapô-las, para que os fiéis mantenham uma aparência religiosa e uma vivência cheia de podridão. Conserva o discurso religioso para disfarçar a maldade. Propõe valores falsificados, porque os autênticos exigem verdade e compromisso. Arrasta para vícios que devoram tempo e energia, mas nunca satisfazem. E quando “possui’ o ser humano, o obriga a deixar o leme da sua vida nas mãos de quem quer o seu mal. O seu programa é o contrário daquele pronunciado por Jesus na sinagoga de Nazaré. Tem razão quando diz que entre ele e o Santo de Deus não tem acordo. Jesus veio para destruí-lo. A sua Palavra tem a autoridade para quebrar as correntes e liberta-nos. Nada é mais poderoso do que ela. Sua misericórdia vence todo o mal. Ouçamo-lo.
(pe. Xavier Paolillo, missionário comboniano)