A Beleza da Transfiguração
Deus é belíssimo e luminoso. É essa a grande revelação da transfiguração. É o sol da nossa vida. Seu rosto brilha. Não tem nada a ver com a cara fechada de nossa imaginação ou com a chatice que transparece de nossas pregações. “É bom!”, exclama Pedro ao contemplar o espetáculo de sua beleza. A beleza é a isca do divino, escreveu alguém. É ela que atrai o ser humano. É o sonho de consumo de todo mundo. Mas não se trata de uma beleza estética que é apenas consequência da genética ou das intervenções humanas, mas de uma “beleza ética” que depende das decisões pessoais. Acontece quando se entra no mundo de Deus e se escuta o Seu Filho amado. É essa beleza que devemos anunciar ao mundo. A tentação de ficar no monte é muito grande, mas os apóstolos são chamados a descer para anunciar a beleza de Deus. “Creio que o cristão deve anunciar apenas isto: a beleza de Deus, um Deus solar, belo, atraente, apaixonado. Devemos, como diz Hans Urs von Balthasar, “mudar o sentido de toda catequese, de toda moral, de toda fé: parar de afirmar que a fé é justa, verdadeira, santa, nosso dever (e mortalmente chata como diz muita gente) e, em vez disso, anunciar a palavra do monte Tabor: Deus é belíssimo”.
Em que consiste esta beleza? Ao escutar Jesus, descobre-se que o Cristo glorificado é Jesus crucificado. O cristão não pode abrir mão disso. A cruz, justamente aquele instrumento de suplício que Pedro queria evitar-lhe, é o ponto mais alto da revelação da beleza do rosto de Deus. Aquele que não tinha graça nem beleza para atrair nossos olhares, e aspecto que não podia seduzir-nos (Is 53,2), é o Deus belo e, consequentemente, o ser humano belo, porque tomou sobre si nossas enfermidades e carregou os nossos sofrimentos. Foi graças às suas chagas que fomos curados (Is 53). Entender isso é central para a nossa vida. Se a luz de Deus deixar de brilhar no nosso humano, as trevas tomarão conta do mundo, como aconteceu no dia 6 de agosto de 1945, quando, por infeliz coincidência, foi lançada pela primeira vez a bomba atômica sobre a cidade de Hiroshima no Japão, último dramático capítulo da Segunda Guerra Mundial que nos mostrou o que o ser humano é capaz de fazer quando não se espelha em Deus. Pena que aquele terrível evento não tenha servido de lição, visto que as luzes mortais de foguetes cada vez mais sofisticados continuam rasgando os céus para vomitar destruição e morte. Como é terrivelmente feio o ser humano que mata.
(Pe. Xavier Paolillo, missionário comboniano)