A COP29 dos Lobbies e a Sonhada pelo Papa e pelos Missionários
Enquanto na COP29 – realizada de 11 a 22 de novembro de 2024 em Baku – as negociações climáticas prosseguem entre acordos nos bastidores e protestos nas ruas, nossos missionários expressam preocupação e apresentam possíveis soluções. O padre Dario Bossi, comboniano no Brasil, afirma que não se pode pensar em preservar o clima “financiando as lobbies de poder e os governos”, mas que seria necessário “fortalecer o multilateralismo dos pequenos, das comunidades”.
Grande parte das negociações na COP29 em Baku gira em torno da urgência de novos fundos para a transição ecológica: a “mitigação e adaptação” às mudanças climáticas. O foco está na “finança climática”, ou seja, em um “novo objetivo financeiro para o clima”: quanto destinar aos países pobres que não podem arcar com uma transição verde?
O padre Dario Bossi, que atua na floresta amazônica do Brasil, alerta para os riscos e sugere priorizar o financiamento das pequenas comunidades locais e das pessoas que estão na linha de frente da luta climática. “Aqui no Brasil – disse o padre Dario à revista Popoli e Missione – acreditamos fortemente que a história climática se transforma a partir dos territórios.” Não se pode pensar em preservar o clima “financiando as lobbies de poder e os governos”. Para o padre Dario, seria necessário “fortalecer o multilateralismo dos pequenos, das comunidades”.
Essa visão está alinhada com o que afirma o Papa Francisco, que na COP29 pede uma nova arquitetura financeira e insiste no perdão da dívida dos países pobres. O comboniano reforça: “Deve-se financiar um multilateralismo de base, ou seja, das comunidades indígenas e afrodescendentes. O próprio Papa escreveu isso na Laudate Deum: a aposta é o multilateralismo de base, não o dos ricos”. A governança global, segundo o padre Dario, “está enfraquecida diante do poder e da arrogância das nações que vivem de uma soberania autorreferencial”.
Com a mensagem “Pay up!” (“Paguem!”), ambientalistas e ativistas reunidos em Baku enviam um recado aos países ricos, pedindo que cumpram os acordos para o “loss and damage”, o Fundo de ‘Perdas e Danos’, destinado aos países em desenvolvimento. Enquanto isso, lobbies e empresas privadas seguem na direção oposta, firmando acordos paralelos e pressionando os governos a limitarem seus compromissos com a energia limpa.
A multinacional Ansaldo, por exemplo, acaba de assinar um contrato para ampliar a vida útil da usina nuclear de Cernavoda, na Romênia, e para construir duas novas unidades (3 e 4) no mesmo país. “Isso é mais uma prova da hipocrisia de uma cúpula internacional onde, em vez de se alcançar um acordo para salvar o planeta, prevalecem interesses econômicos de empresas que buscam lucro e lobbies internacionais a serviço dos poderosos”, comenta Filippo Ivardi, comboniano em Castel Volturno.
Nesse sentido, “a energia nuclear é uma grande falácia”, diz ele. “Além dos tempos exorbitantes de construção das usinas diante da urgência absoluta de frear o colapso do planeta, ela certamente não está isenta de riscos.”
Há pelo menos 1.773 lobistas de gás e petróleo presentes em Baku, enquanto o governo do Azerbaijão aproveita a presença maciça de empresas e governos para promover combustíveis fósseis. O presidente azeri, Ilham Aliyev, definiu o gás e o petróleo, dos quais o país é rico, como uma bênção: “é um dom de Deus”, declarou na abertura das negociações.
(Popoli e Missione)