A Dor do Parto
Em épocas sombrias, marcadas por violências, injustiças, pandemias, tempestades, opressões e perseguições, é comum que emerja uma sensação de impotência e de abandono. Os discípulos e as discípulas de Jesus ficam com a impressão de que Deus esteja perdendo o controle da situação. Sentem-se perdidos(as) e desamparados(as). A chama da esperança vai se apagando aos poucos, até porque é estratégia do mundo matar a esperança e acabar com qualquer expectativa de tempos melhores.
Para encorajar seus discípulos, Jesus sugere a estratégia da profecia apocalíptica, isto é, o exemplo da “mulher grávida que dá à luz!” (Ap 12). “A mulher, quando deve dar à luz, fica angustiada porque chegou a sua hora; mas, depois que a criança nasceu, ela já não se lembra do sofrimento, por causa da alegria de uma nova vida ter vindo ao mundo. Também vós agora sentis tristeza, mas eu hei de ver-vos novamente, e o vosso coração se alegrará, e ninguém vos poderá tirar a vossa alegria” (Jo 16,21-22).
A cruz que Jesus está para encarar não é uma sentença de morte, mas a dor do parto que possibilita a alegria de uma vida nova, a de Jesus Cristo ressuscitado.
Quem é esta mulher? A mulher é a comunidade cristã que, mesmo num contexto quase totalmente hostil, vai à luta com coragem e ousadia, com o ventre grávido de esperança. Mesmo gritando de dor e aflita por tanto sofrimento, não aborta o projeto de Deus que o espírito fecunda no seu ventre, mas leva a gestação até o fim, dá à luz o sonho de Deus e o mantém a salvo de qualquer tentativa de acabar com ele.
À força destruidora da cauda do dragão, responde com a fecundidade de seu útero. À armadura da Serpente, reage com as vestes luminosas da ternura e da não violência. À destruição e morte da fera enfurecida, opõe o parto e a vida. Enquanto o mal age nas trevas, ela dá à luz.
Tudo isso não é fácil. Às vezes, as circunstâncias impõem-lhe um recuo para o deserto. Mas não se trata da covardia da fuga. É um retorno estratégico às fontes para voltar à luta com mais energia. É duro sofrer, mas é melhor sofrer as dores militantes do parto para gerar vida do que padecer passivamente o luto da opressão e da morte.
Obrigado a todas as mulheres que, com sua coragem, mantêm viva essa profecia.
(pe. Xavier Paolillo, missionário comboniano)