A Ecologia Integral na experiência real de Piquiá de Baixo
A Ecologia Integral em Piquiá de Baixo
1. Ecologia integral no Piquiá
O sonho de toda comunidade é viver bem integrada em seu território, em paz, para que as futuras gerações tenham uma vida plena. Do sonho original da comunidade, pouco a pouco fomos passando à construção de um projeto comum visando a ecologia integral em Piquiá de Baixo.
Piquiá era uma pequena comunidade de agricultores, migrantes, que se instalou em uma região amazônica fértil, rica em água. Eles vieram das regiões secas do País e estavam em busca de novas oportunidades de vida. A cultura da época era limpar e desbravar territórios virgens; não sabemos se teriam conseguido se inserir preservando pelo menos um mínimo daquele ecossistema pulsante: não tiveram tempo de tentar.
2. O projeto de mineração Carajás
De fato, cerca de quinze anos depois, chegou o grande projeto de mineração Carajás: a maior mina de ferro a céu aberto do mundo, descoberta no coração da Amazônia, a 300 quilômetros de Piquiá. Toda uma infraestrutura para exportar o minério e só um processamento mínimo realizado no Brasil. A parte suja da produção tinha que ficar deste lado do oceano, enquanto os recursos eram exportados para China, Japão, Estados Unidos e Europa.
Em Piquiá, bem ao redor das casas dos camponeses, foram instaladas 5 siderúrgicas, sem o menor respeito aos direitos sociais e ambientais.
3. Consequências para a Ecologia integral
As consequências foram sentidas rapidamente: alergias, dores de cabeça, febre constante, doenças pulmonares, queimaduras, mortes. A coexistência com poeira e poluição tornou-se habitual. As pessoas tiveram que aguentar, porque, em troca, essas indústrias “trouxeram dinamismo econômico para a cidade”. Esse tipo de economia de enclave, voltada para uma única produção e direcionada exclusivamente à exportação, sacrifica os pobres, expõe toda a região às frequentes crises de instabilidade dos mercados internacionais, sufoca a diversificação econômica e prejudica o meio ambiente e o futuro.
4. Missão responde às necessidades da comunidade
A desproporção de forças com o grande capital multinacional enfraquecia a comunidade, indignada mas impotente. Algumas pessoas vieram pedir ajuda à Igreja. Foram elas que nos levaram a entender que nossa missão vai além do serviço religioso, do culto ou da pastoral ordinária. Aceitamos o desafio e estamos aprendendo a vivê-lo juntos.
Temos buscado a colaboração de pessoas e instituições competentes. Muitas iniciativas foram criadas em rede: protestos, manifestações, audiências públicas, visibilidade do caso a nível nacional e internacional, intercâmbios com outras comunidades, reclamações formais e processos de indenização, pesquisas de biólogos, médicos, fundações internacionais de defesa dos direitos humanos, participação em sessões do Conselho de Direitos Humanos da ONU e da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, visita in loco e relatórios de relatores especiais da ONU.
A Igreja organizou uma grande Romaria, uma celebração com pessoas de toda a região e 10 bispos, em oração, solidariedade e denúncia, junto à comunidade de Piquiá.
5. Alguns resultados das lutas
Chegaram as primeiras indenizações, ainda que a justiça seja muito lenta. Em 2012, a multinacional Vale foi reconhecida como a pior empresa do mundo, por esse e muitos outros conflitos. Todos os anos, participamos como acionistas críticos da Assembleia Geral da empresa, denunciando inúmeras violações dos direitos humanos e ambientais. Também, lançamos uma campanha para que as organizações religiosas retirem seus investimentos da mineração.
6. Piquiá da Conquista e Ecologia
Há anos, um projeto está em andamento para reassentar todo o povoado para uma área não poluída. Estamos com 30% da construção do novo bairro.
As empresas e o governo ainda trabalham nos bastidores para dividir e enfraquecer a comunidade. Já passamos por vários conflitos e ainda sentimos fortes limites e fragilidades, mas amadurecemos nesse caminho, junto com algumas lideranças fortes e determinadas.
Os Missionários Combonianos no Brasil assumiram como prioridade a defesa dos direitos socioambientais e há 14 anos vêm buscando cumpri-la de forma estrutural, na região de Carajás, através das ações da rede “Justiça nos Trilhos”.
Estamos aprendendo a cada dia, junto com as pessoas, a enfrentar concretamente os desafios e o sonho da Ecologia Integral, em uma Amazônia cada vez mais ameaçada. Acompanhe-nos!
Pe. Dario Bossi, comboniano em SP