
A fé que comove Deus
Enquanto Jesus estava falando, um chefe se aproxima, inclina-se profundamente diante dele e diz: “Minha filha acaba de morrer. Mas vem, impõe tua mão sobre ela e ela viverá”. Jesus fica impressionado pela fé daquele homem e, comovido pelo seu sofrimento, larga tudo e o segue, junto com seus discípulos.
Estamos acostumados ao contrário. Normalmente é o ser humano que é chamado a abandonar tudo o que está fazendo para segui-lo. Mas neste caso é Jesus que obedece ao apelo daquele pai desesperado pela morte da filha e vai com ele. E não acaba por aí. Enquanto se dirige até a casa onde se encontra a menina, ainda tem tempo para “voltar-se, ver e curar” uma mulher que, acometida por uma hemorragia há doze anos, não desiste. Toca com fé a barra de seu manto na esperança de ser curada (Mt 9,18-26).
“Impõe tua mão sobre ela, e ela viverá”, “Se eu conseguir ao menos tocar no manto dele, ficarei curada”
Aos olhos do leitor superficial são duas simples frases de pessoas desesperadas, na realidade, resumem duas histórias de fé que se cruzam e emergem no meio da multidão. Ambas dão rosto e nome ao sofrimento que até então parecia impessoal.
Jesus dá atenção a cada pessoa. Mesmo cercado pela multidão, consegue identificar a condição de cada um/a e prestar um cuidado personalizado. A dor de cada ser humano o comove. Toca Seu coração. Desinstala-O dos Seus aposentos. O obriga a intervir. Os pobres não são o número de cadastro. Tem nome, histórias concretas de sofrimento:
“Deixemos de parte as estatísticas – diz Papa Francisco -; os pobres não são números, que invocamos para nos vangloriar de obras e projetos. Os pobres são pessoas a quem devemos encontrar: são jovens e idosos sozinhos que se hão de convidar a entrar em casa para partilhar a refeição; homens, mulheres e crianças que esperam uma palavra amiga. Os pobres salvam-nos, porque nos permitem encontrar o rosto de Jesus Cristo”.
Jesus, como o Pai, não consegue ficar indiferente e manter-se distante de quem sofre e luta todo dia sem resignar-se. Permite que O incomodem. Deixa-se pegar pela mão de quem sofre e conduzir até o foco do problema para marcar presença onde a dor se faz mais intensa e o desespero tem tudo para tomar conta. Sua presença já basta para alimentar a esperança. Faz-se tocar, pois seu jeito simples, despojado e “humano” de agir o torna acessível a todas as pessoas. Não impõe as mãos. Agarra a mão e a aperta. Estende-a para auxiliar a levantar. Mesmo se não resolve o problema como gostaríamos que fosse, dá uma mão para carregá-lo e enfrentá-lo com dignidade. Assim é Deus. Esse é seu verdadeiro rosto, a imagem que Ele nos doou e com que somos chamados a assemelhar-nos.
Pe. Xavier Paolillo, missionário comboniano
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