A Lição da Mulher Cananeia
Uma mulher cananeia, que vinha da região de Tiro e Sidônia, foi ao encontro de Jesus e pôs-se a gritar, pedindo ao Mestre que curasse a filha atormentada por um demônio. Ela foi “atrevida”. Ousou encarar os preconceitos e fazer a diferença. Desafiou a distância imposta pela “lei da pureza” e se aproximou. Quebrou o muro da separação e reivindicou o direito de se achegar a Deus e apresentar sua súplica. Para a religião oficial, “Deus” era só para os “íntimos que mereciam”. O acesso a Ele estava reservado somente aos “justos”. A salvação era um privilégio exclusivo para o povo eleito. A mulher reagiu. Gritou ainda mais alto. A dor que brotava com força de suas entranhas maternas “converteu” Jesus e, sobretudo, seus discípulos, arrastando-os para fora dos restritos limites dos privilégios do “povo eleito” e os levou a escancarar seu coração para acolher as dores de qualquer ser humano, independentemente de sua origem, orientação, religião, opções políticas e condição econômica.
Por incrível que pareça, a mulher cananeia, “estrangeira” e “pagã”, deu uma lição de Evangelho para todo mundo: o Reino de Deus não pode ser como esse mundo. No coração de Deus, não pode haver distinção entre “filhinhos/as” e “cachorros/as”, entre “abençoados” e “desgraçados”. Os/as discípulos/as de Jesus não podem fazer discriminações e simplesmente excluir quem não está nos conformes. A Cananeia, mesmo distante das instituições religiosas, de suas leis e suas doutrinas, demonstrou que o dom da fé não conhece fronteiras raciais, culturais, econômicas e sociais. Ao atender o seu pedido e ao elogiar a sua fé, Jesus aponta a nova comunidade acolhedora e transbordante de compaixão que veio inaugurar como alternativa para todos os desvios sectários, preconceituosos e fanáticos do seu tempo e de nosso tempo.
(Pe. Xavier Paolillo, missionário comboniano)