A Luz da Missão: 20 Anos de São Daniel Comboni e a Jornada Comboniana na CNBB
À luz da comemoração dos 20 anos da canonização de São Daniel Comboni para a Igreja, a contribuição Comboniana durante o quadriênio de 2019-2023 na assessoria da comissão da ação missionária e cooperação intereclesial da CNBB se reveste de um sentido expressivo. Diante da vasta tarefa missionária da Igreja no Brasil, a nossa contribuição, como irmã missionária Comboniana nesse serviço se torna como que uma gota d´água na vasilha! Contudo, uma gota faz a diferença quando se junta a outras e outros, aos organismos missionários numa força-tarefa de animar a ação e despertar a consciência missionária de cada espaço eclesial do Brasil. Tarefa ambiciosa se a observarmos sob o prisma da sua audácia. E por falar em audácia, não podemos deixar de recordar São Daniel Comboni a partir da sua audaciosa ação missionária em favor da evangelização entre os povos mais abandonados de sua época, no coração da África, no Sudão e seus ainda hoje desafiadores recônditos.
No começo do quadriênio, a comissão recebeu o amplo mandato de divulgar, articular e implementar o Programa Missionário Nacional (PMN), um programa ambicioso do ponto de vista de sua concretização, votado e aprovado pela assembleia da CNBB como resultado de um extenso movimento sinodal de escuta dos então 18 regionais da CNBB pelo Brasil afora. No seu tempo, também Comboni concebeu um plano evangelizador que consumiu suas forças em prol daquela porção de povo esquecido, explorado: eis o seu lema: Salvar a África com a África! É valorizando uma cultura que conseguimos nos aproximar dela para testemunhar a alegria do Evangelho de Jesus Cristo. O PMN na Igreja do Brasil nada mais é do que iluminar, fortalecer a consciência missionária da Igreja particular para que ela mesma seja portadora dessa alegria até os confins do mundo: pois, além da sua ação missionária, toda a Igreja é por sua natureza missionária.
Já logo no início, a comissão percebeu o desafio de tamanha empreitada. Por exemplo, numa das resoluções do agir do PMN, cada regional deveria realizar uma missão “ad gentes” além fronteira e cada Igreja particular deveria ter uma Igreja Irmã. Muitas dioceses se comprometeram e continuam a sua cooperação como uma Igreja em saída! Entretanto, a maioria das outras não conseguiram dar o passo. Somente alguns regionais assumiram o compromisso de uma missão “Ad Gentes” além-fronteiras, alguns estão em processo. Os desafios internos da Igreja pesaram sobre suas decisões e muitas vezes a tão almejada “conversão pastoral” não saiu do papel. O PMN é sem sombra de dúvidas desafiador; tanto o é, que a última assembleia anual do Conselho Missionário Nacional (COMINA) aprovou a sua continuidade como meta para o novo quadriênio da ação missionária da Igreja no Brasil. Certamente, a semente da fé inabalável de São Daniel Comboni através da nossa incansável doação e colaboração foi plantada no coração de cada conselho regional, diocesano e ou paroquial durante a nossa colaboração na comissão!
Os obstáculos, incompreensões, escassos recursos financeiros, ignorância e pouca abertura da Igreja e sociedade do seu tempo nunca fizeram Comboni desistir da sua tarefa, da sua vocação. Não guardou nada para si, deu tudo: chacoalhou a Igreja do século 19, foi pessoalmente por toda Europa nas cúpulas e nas periferias na tentativa de engajar a todos na missão. Sua fé inabalável o sustentou! Estamos na trilha de Comboni onde estivermos e como irmã Comboniana também aqui na comissão da ação missionária da CNBB compartilhamos tudo o que temos.
A pandemia literalmente abalou todos os níveis da sociedade e do mundo. A consciência missionária da Igreja também sofreu com ela; a comissão missionária assim como todas as outras, depois de um breve momento de susto, mergulhou suas energias em encontrar formas de continuar seu trabalho. Foi aí que a compreensão da missão da Igreja no magistério do Papa Francisco aterrissou; na Evangelii Gaudium, a missão tem caráter existencial: compreende todas as dimensões da vida humana; a missão não se contém somente na sua ação evangelizadora. Nesse prisma, organizamos, articulamos encontros de animação e formação online que atingiram a quase todos os regionais da CNBB mantendo o vínculo missionário vivo. Na Igreja, a vida humana, a criação e seus valores são o bem maior a proteger. A missão nos chama a ser missão de Deus no meio dos povos em todos os confins do mundo e além-fronteiras, sem medo de evangelizar. Dizia São Comboni: África ou morte! E salvar a África com a África; junto com o Papa Francisco nós hoje gritamos: a vida é missão! Eu sou uma missão nesta terra.
No tempo, quatro anos não é muito! É uma gota na vasilha! Deus vai medir? São Daniel Comboni vai contar o tempo? Se assim o for, estou bem feliz que este breve, mas intenso tempo de colaboração foi lindo! Foi sim, desafiador; embranqueceu os cabelos? Também! Contudo, o tema do congresso missionário nacional em novembro: “Ide! Da Igreja Local aos confins do mundo! E seu lema: Corações ardentes! Pés a caminho!” traduz o sentimento, a fé de que valeu o esforço! Aliás, essa participação das Irmãs Missionárias Combonianas na comissão se ilumina de significado e coloca a família Comboniana em movimento sinodal de saída, em continuidade com a caminhada da comissão da ação missionária e cooperação intereclesial da Igreja no Brasil. Que São Daniel Comboni interceda para uma crescente, fervorosa e vibrante consciência missionária da Igreja do Brasil como foi a sua própria vocação missionária para a Igreja. E viva a Missão! E viva a vocação Comboniana na Igreja e no mundo!
Por Sandra, missionária Comboniana