A Luz que acende o Olhar e faz Brilhar os Olhos (Mt 6,19-23)
Não sei se você já reparou. Quem encontra Jesus e, em seu coração, toma a firme decisão de segui-lo, tem o olhar luminoso. Seus olhos brilham e seu rosto resplandece, não de luz própria, mas reflexo da luz de Deus. Não adianta enganar com caras maquiadas e sorrisos forçados para disfarçar a escuridão que aflige a alma. A máscara cai. A luz artificial, antes ou depois, entra em blecaute, pois não tem como se alimentar sem a energia do amor de Deus. Quem ama a Deus, aos/às outros/as, a si mesmo e o universo em que está inserido resplandece.
Às vezes nos sentimos “iluminados/as”. Pretendemos saber tudo. Nossa arrogância nos leva a crer que estamos sempre certos/as. Sentimo-nos habilitados/as a dar lições aos/às outros/as, sobretudo em matéria de moral. Esbanjamos conselhos para todo lado, até para Deus. Queremos ensinar-lhe como agir. Fazemos de tudo para aparecer. Até nos cultos, usamos artifícios para atrair a atenção sobre nós. Os altares se parecem com palcos e as celebrações shows, cujos protagonistas somos nós. A celebração dos sacramentos, sobretudo do Batismo, do Matrimônio e da Ordem, se rende à lógica do espetáculo, com tanto de jogo de luzes, costumes e efeitos especiais. Na “sociedade do espetáculo”, a aparência torna-se algo importante, bem como a produção de imagens e a valorização da dimensão visual da comunicação como instrumento de exercício do poder e de dominação social. “No espetáculo, o fim não é nada, o desenrolar é tudo. O espetáculo não deseja chegar a nada que não seja ele mesmo” (Debard).
Enquanto as luzes do mundo tomam conta, a luz de Deus se definha até desaparecer. Tornamo-nos refletores de um brilho que deslumbra, extasia e fascina, mas não ilumina. Pelo contrário, engana, obceca, manipula, distrai e desconcentra. A fé, no lugar de apontar a luz verdadeira, está sendo usada para manter o povo debaixo da tirania das trevas. Isso não tem nada de cristão. A luz do Cristo ressuscitado não deslumbra nem obceca, mas atrai, direciona, ilumina e aquece.
Quem possui esta Luz é rico. E vive, porque a luz é a vida das pessoas. Então o cristão/ã está vivo se brilhar da luz de Cristo, caso contrário é um fenômeno de circo, um showman ou pior ainda um ilusionista que, não sendo mais um reflexo da luz de Deus, recorre à maquiagem e aos efeitos especiais para enganar o público e vender como real e verdadeiro aquilo que é imaginário e falso.
No meio de tanta falta deluz, um bom exemplo a ser seguido é São João Batista. É enviado por Deus dar testemunho à luz. Chama a atenção das multidões com seu estilo de vida radicalmente sóbrio, essencial, coerente até às últimas consequências e, sobretudo, profético. É despojado de tudo, até de si mesmo. Não é o protagonista principal, mas um coadjuvante. É só uma testemunha. Não passa pela sua cabeça a possibilidade de ocupar o lugar de Jesus. “Aquele homem da aparência rude e de poucas palavras, não se gloria de nenhum mérito. É exatamente o contrário dos pavões e fanfarrões que aparecem por aí. Não responde por adição de méritos, títulos, competências, mas por subtração, apontando o caminho da essencialidade. Ninguém é profeta por acumulação de prestígio, mas por espoliação” (Ermes Ronchi).
Não atrai para si, mas encaminha para Jesus. É uma lâmpada que está acesa e brilha não de luz própria nem tampouco de luzes artificiais que obcecam no lugar de abrir os olhos à verdade, mas como reflexo da luz que vem de Deus. Aponta para Cristo, luz do mundo. É Ele o verdadeiro Messias. Convida seus discípulos a tirar os olhos de si para olhar para Jesus e a crer nele, pois é só à sua luz que nós vemos a luz. Boa Festa de São João.
(pe. Xavier Paolillo, missionário comboniano).