
A Manifestação Viva da Palavra
Finalmente, o Verbo encarnado abre a boca e começa a falar. Fá-lo numa simples “liturgia da Palavra” na humilde sinagoga de Nazaré, na Galileia, na extrema periferia de Israel, terra de pobres e gente impura, e não numa solene cerimônia com a presença de “autoridades” e a oferta de sacrifícios no imponente templo de Jerusalém. Busca inspiração na profecia com a qual se identifica. Começa com a abertura do livro do profeta Isaías que colocam em suas mãos. Lê em voz alta o trecho que contém as palavras que falam da vontade de Deus a respeito d’Ele e da Sua missão: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque Ele me consagrou com a unção para anunciar a Boa Nova aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos cativos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos e para proclamar um ano da graça do Senhor”.
Depois, fecha o livro dizendo: “Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir”. O rolo do pergaminho vai para o arquivo. Agora entra em cena a vida d’Ele. A partir de agora, o Livro é Ele mesmo. O Filho “em carne e osso” é a Escritura onde está escrita a vontade do Pai. A Sua carne é teofania, isto é, a manifestação do verdadeiro rosto de Deus. O Seu jeito de ser e de viver é aquele anunciado pelo profeta Isaías. O seu “plano pastoral” encontra-se naquele texto. Qualquer outra representação de Jesus e de sua missão que foge àquela descrição é desviante. Jesus de Nazaré, como escreveu um autor da Idade Média, é o “livro máximo” cujas páginas são a sua carne. Sua vida é o Livro por excelência, sempre aberto e atual, acessível a qualquer leitor e fácil de entender quando há a disposição de lê-lo à luz do Espírito e com os olhos do coração. Meditar sua vida e, sobretudo, assimilá-la ao ponto de torná-la carne em cada um e cada uma de nós é o nosso principal desafio. Mantenhamos sempre os olhos fixos em Jesus de Nazaré. Deixemos que o Verbo Encarnado fale d’Ele mais do que as nossas palavras a seu respeito, para que a Palavra que se cumpre HOJE em nós seja a mesma que Ele pronunciou na sinagoga de Nazaré como programa de vida.