
A Melhor Vigilância é a Prudência
“Não sou o dono do mundo, mas o filho do dono do mundo”. Esta frase, estampada na traseira de muitos caminhões que cruzamos em nossas rodovias chama nossa atenção para uma grande verdade: Deus é dono de tudo. Nós somos somente administradores de seus bens. Administrar significa gerir os bens que nos são confiados segundo a mentalidade e o desejo do dono, e não segundo os nossos gostos, sobretudo quando se trata de cuidar de pessoas.
Para uma boa administração dos bens de Deus, Jesus escolhe administradores prudentes. Uma visão distorcida reduz a prudência à timidez, medo e cautela. Nada disso. “A prudência é a virtude que dispõe a razão prática a discernir, em qualquer circunstância, o nosso verdadeiro bem e a escolher os meios adequados para realizá-lo” (CIC n. 1806). Ela é uma virtude concreta. Não se limita a raciocínios filosóficos e não visa à solução de teoremas abstratos, mas à realização do verdadeiro bem. Graças a ela, podemos discernir o bem do mal e escolher as ações concretas para realizá-lo. Portanto, é uma virtude prática que nos estimula a vencer o medo, a timidez e a omissão e a ousar o bem, mesmo se isso implica ter que encarar dores, sofrimentos e perseguições. O importante é não perder de vista o bem. É nisso que consiste a fidelidade que Jesus exige do administrador.
A prudência é “a regra certa da ação” (São Tomás de Aquino). Mantém-nos permanentemente em alerta. É moderadora de todas as outras virtudes. “Guia, orienta as outras virtudes para o seu próprio fim, ajudando-as a manter-se no ponto certo, no “ponto médio” do equilíbrio moral, evitando assim que descambem para a insuficiência ou para o exagero” (pe. Faus). Por isso Santo Tomás a chama «a mãe das virtudes». Cuidado, porém. A expressão “ponto médio do equilíbrio” não tem nada a ver com covardia ou com diplomacia. A prudência é a virtude das pessoas corajosas que resistem ao mal e descem do muro para escolher o lado certo das coisas. Prudente é quem não procede conforme o conselho dos ímpios, não se deixa corromper, não trilha o caminho dos pecadores, nem se assenta com os malvados, mas se compraz no serviço do Senhor e medita sua lei noite e dia (Sal 1).
Quando a prudência não está no norte na nossa vida, só fazemos desastres como os “administradores perversos e infiéis” da parábola de Jesus ((Lc 12,39-38). No lugar de discernir o bem e de realizá-lo, optam pelo mal: “começamos a espancar as pessoas” com nossas posturas arrogantes e violentas; “comemos, bebemos e nos embriagamos”, utilizando recursos que não são nossos; deixamos de ser servos, para mandar e desmandar, cometendo todo tipo de abuso contra as pessoas cujo bem deveria ser nossa prioridade. Poder, violência, maldade, desvios, abusos e apropriação indevida do que não é nosso são as posturas que caracterizam a vida onde falta um o discernimento da prudência. O julgamento de Jesus é duro, sobretudo com quem, mesmo tendo tido a oportunidade de conhecer o Sumo Bem que é Deus, não age de consequência. Ainda pior, é a condenação da sociedade que espera de nós boas obras.
(Pe. Xavier Paolillo, missionário comboniano)