
A Missão Comboniana entre os Povos Indígenas na Amazônia
Teddy Keyari Njaya, MCCJ – Boa Vista, Roraima, Brasil
A primeira vez que cheguei ao Brasil foi em 2007, como estudante de teologia. Após concluir meus estudos na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, minha intenção era permanecer no país para o serviço missionário. No entanto, após os votos perpétuos e a ordenação sacerdotal, retornei ao Quênia, onde permaneci por oito anos em missão.
No final de 2020, fui novamente destinado ao Brasil, desta vez para atuar entre os povos indígenas na Diocese de Roraima. Uma das prioridades dos Missionários Combonianos no Brasil é a missão junto aos povos indígenas, com uma opção preferencial pela região amazônica. Quando retornei, em 2020, já conhecia o idioma devido aos estudos anteriores. Fui designado para o estado de Roraima, onde a comunidade comboniana está localizada na cidade de Boa Vista.
Os Missionários Combonianos chegaram à Diocese de Roraima em 2003, para servir os povos indígenas. Este ano celebramos 22 anos de dedicação e agradecemos aos confrades que iniciaram esse trabalho na Amazônia. Continuamos a construir sobre as bases que eles estabeleceram.
Embora a sede da comunidade esteja na cidade, nossas atividades missionárias ocorrem majoritariamente nas aldeias. Atuamos em três regiões habitadas por comunidades indígenas: Murupu, Baixo São Marcos e Médio São Marcos.
- Murupu: Possui 6 aldeias.
- Baixo São Marcos: Das 14 aldeias, atendemos 8.
- Médio São Marcos: Das 10 aldeias, atendemos 8.
As distâncias entre as aldeias são significativas. As principais línguas faladas nessas regiões são Wapichana e Macuxi. A região de Murupu é predominantemente Wapichana, enquanto as regiões de Baixo e Médio São Marcos têm a predominância do Macuxi. Além disso, há falantes de Taurepang e Ingarikó, e a mobilidade das pessoas entre diferentes regiões tem levado a casamentos interculturais.
Nossa missão é anunciar Jesus Cristo, proclamando a Boa Nova aos pobres (Lc 4,18), e seguir os passos de São Daniel Comboni como discípulos e missionários, alcançando os confins dos rios, igarapés, estradas, cidades, vilas e malocas.
Principais atividades missionárias entre os povos indígenas:
- Somar forças com entidades que lutam pela preservação do meio ambiente e pelo desenvolvimento sustentável, aprendendo com os povos indígenas a respeitar a natureza como fonte de vida.
- Apoiar a formação intercultural com as lideranças das comunidades (Tuxauas/Caciques), catequistas, jovens e crianças, valorizando a mística e os saberes tradicionais.
- Reforçar a presença missionária nas aldeias, testemunhando a vida e caminhando junto aos povos originários.
- Celebrar a Eucaristia e os sacramentos, como batismo, crisma, matrimônio e penitência. Os povos indígenas valorizam especialmente os sacramentos de iniciação à vida cristã.
- Defender os direitos dos povos indígenas junto a organizações como o Conselho Missionário Indigenista (CIMI) de Roraima e a Associação dos Povos Indígenas da Terra São Marcos. Também denunciamos projetos que desrespeitam as populações tradicionais.
- Incentivar escolas indígenas, colaborando com professores e comunidades para promover a educação diferenciada, ajudando crianças e jovens a conhecerem suas línguas e culturas.
- Dialogar com grupos evangélicos, especialmente pentecostais, nas comunidades e aldeias, respeitando suas crenças e formas de fé.
- Reconhecer os mitos, cantos e palavras sagradas dos povos Macuxi e Wapichana, valorizando elementos do Evangelho presentes em suas culturas.
Essas são algumas dimensões do nosso serviço missionário na Diocese de Roraima. A pastoral indigenista é uma das prioridades dos Missionários Combonianos na Amazônia. São Daniel Comboni dizia: “África ou morte”. Hoje, diria: “Amazônia ou morte”.
Apesar dos desafios, estamos felizes em realizar o trabalho de evangelização entre os povos originários do Brasil. Mais do que trabalhar entre eles, trata-se de viver com eles e compartilhar os valores do Evangelho respeitando suas culturas e tradições.
Durante esses anos de serviço missionário, aprendi que a missão não é uma escolha pessoal, mas um chamado para ir onde somos necessários. A experiência nas aldeias me ensinou que a missão não consiste em mudar os outros, mas em transformar a mim mesmo.
Os povos indígenas possuem uma sabedoria que a ciência moderna não pode oferecer, especialmente no respeito à natureza. Na verdade, não somos nós que cuidamos da natureza; é a natureza que cuida de nós. Enquanto louvamos a Deus pela criação, os povos indígenas ensinam que somos parte dela e que, por isso, a natureza em nós louva a Deus.
“Viva os povos originários!”
Boa Vista/RR, 18 de janeiro de 2025.
Teddy Keyari Njaya – Missionário Comboniano
Imagem: Amambai (MS), 24/08/2024 – Roberto Benitez, cacique da Retomada Guapo’y Mirin Tujury, localizada ao lado da Reserva Indígena de Amambai. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil