
A Norma que Agrada a Deus é o Exercício da Caridade
Hoje em dia, estão voltando à moda tradições e devoções que têm pouco ou nada a ver com a grandeza da fé cristã, que coloca sempre ao centro a pessoa e não a norma, que gera comunhão e não divisão, que preza pela inclusão e não pela exclusão, pela misericórdia no lugar da condenação.
Quem acolhe o Evangelho recebe em dom a liberdade dos filhos e filhas de Deus: “É para a liberdade que Cristo nos libertou!” (Gl 5,1). A liberdade que Jesus nos doa é para o exercício do amor e da misericórdia no estilo do samaritano. Não nos deixemos amarrar de novo ao jugo da escravidão de preceitos, regras e rituais trazidos do passado sem nenhum discernimento e sem o esforço hermenêutico de contextualizá-los para verificar se têm sentido hoje em dia e, sobretudo, se trazem benefício para o seguimento de Jesus.
“O que vale em Cristo Jesus – diz o apóstolo Paulo – é a fé agindo pela caridade” (Gl 5,6). Pois é onde há amor que Deus aí está. O resto é relativo ou não tem nenhum valor. Somente onde há uma vida que se doa é que há a oportunidade de fazer uma verdadeira experiência da presença do Deus que comunica a vida. Nenhum ritual, sobretudo aquele que acontece na mais absoluta formalidade e teatralidade, pode substituir isso.
Talvez cada um de nós deva rezar para que aconteça a mesma conversão que aconteceu com o apóstolo Paulo. “Ele passou da religião à fé.” Muitas vezes, nossas vidas são cheias de religião, mas vazias de fé verdadeira. A religião é fruto da educação, da tradição, das expectativas, mas a fé pode não ter nada a ver diretamente com tudo isso. Encontramos a fé quando, de forma forte e decisiva, temos uma experiência que nos marca tanto que nos faz passar da crença em valores, tradições, ritos ou ideias a acreditar em Cristo como pessoa e a assumir o Seu Evangelho como projeto de vida” (Pe. Luiz Episcopo).
Quantas feridas carregamos na nossa alma e em nosso corpo. Quanta sujeira emporcalha nossas vidas. A solução não é negar tudo isso, nem tampouco varrê-lo para debaixo do tapete ou sublimá-lo com rituais e camuflá-lo com devocionismos e aparências de bondade. A única maneira de nos curarmos é envolver nossas feridas e lavar nossas sujeiras com aquela substância curativa e purificadora que é o amor: “É a única possibilidade de crescer e ver as próprias impurezas se tornarem pérolas”, diz Paolo Squizzato.
O Espírito autêntico do Evangelho faz florescer a humanidade: não a pisa, não a força, não a oprime, não a enjaula, não a intimida, nem a destrói. Se tudo isso acontece—se a humanidade é pisada, maltratada, enjaulada, massacrada, injustiçada—é porque esvaziamos a Palavra de Deus com um monte de besteiras que transmitimos para não viver o Evangelho.
Que Maria seja a nossa mestra e, a pedido dela, façamos tudo o que Jesus manda para trazer de volta a alegria do Evangelho onde foi esvaziado ou aguado.
(Pe. Xavier Paolillo, missionário comboniano)