A Oração de Jesus(Jo 17,1-11)
Jesus termina seu discurso de despedida dirigindo ao Pai uma belíssima oração. É um texto que vale a pena ler e meditar com profundidade porque nos mostra o significado da oração cristã. A primeira coisa a chamar a nossa atenção é a relação de intimidade entre Ele e o Pai. Jesus se dirige a Deus com confiança. Têm o cheiro e o calor de família neste diálogo. Não tem medo de pedir. Sabe que pode contar com Ele. Na nossa oração muitas vezes nos sentimos constrangidos/as, amedrontados/as e inseguros/as. Não sabemos o que pedir e como pedir. Vamos à escola de oração. Passamos por vários métodos. Procuramos fórmulas milagrosas. Inventamos até correntes de oração que não podem ser interrompidas para não perder a eficácia. Inventamos preces para todos os gostos e todas as necessidades. Inclusive, estabelecemos até a quantidade de orações para que o pedido seja aceito. Jesus não ensinou nada disso. Por trás destas práticas, apesar da boa fé de quem as utiliza, tem traços de idolatria. Jesus nos ensina a conversar com o Pai com naturalidade. Não precisa cumprir protocolos nem tampouco inventar cerimônias para chegar até Ele, bastam a atmosfera de casa e os afetos da família. O título que mais lhe agrada é Abbá, isto é, Papai. Portanto, sintamo-nos à vontade com Ele. Afinal, graças ao Filho, também nós somos seus filhos e filhas amados/as.
Quando a oração é filial, descobrimos que a eternidade não é uma chata repetição do tempo, mas o conhecimento profundo da identidade e vontade de Deus. Este é o assunto mais importante da oração: conhecer cada vez mais o Pai e aquele que Ele enviou, Jesus Cristo. para amá-los cada vez mais e servi-los, pois é isso que nos garante a plenitude da vida. Trata-se de um conhecimento total, que envolve a inteligência, os afetos e a vontade. Este conhecimento se dá, sobretudo, através da Palavra meditada e colocada em prática cotidianamente para dar credibilidade ao nosso testemunho e dar razão da nossa esperança. Inteligência, afetividade e vontade são elementos inseparáveis para evitar o risco do intelectualismo, do sentimentalismo e do intimismo. A inteligência nos dá a capacidade de explicar, por quanto possível, o conteúdo da fé e dar razões das verdades em que acreditamos, a afetividade nos faz mergulhar na relação de Amor que a fé nos proporciona e a vontade nos ajuda a transformar as nossas escolhas à luz da fé. O conhecimento do Pai informa a nossa vida, a preenche de amor e transforma nossas escolhas. Quando a fé não incide na vida do dia a dia resta só um fato marginal. Conhecer o Pai significa compartilhar a Vida do Eterno assim como se manifestou no Filho. Foi esta a missão que Jesus recebeu. O Pai lhe entregou a humanidade para que lhe desse a conhecer o Seu rosto. Ele cuidou disso, cumprindo sua missão com todo cuidado. Suas palavras e seus gestos falaram de Deus. No fim da sua experiência humana, sente a necessidade de agradecer ao Pai porque confiou nele, lhe entregou o dom que lhe é mais caro, os/as destinatários/as do seu amor: as suas criaturas. É bonito ver Jesus rezando agradecendo. Poderia ter utilizado este momento para implorar por sua vida. Para pedir ao Pai que o libertasse do sofrimento que o aguarda. Mas Jesus agradece. Ensina-nos a inserir em nossa oração a dimensão da gratidão. O Pai aceitou revelar-se no Filho. Por mais que ele pudesse ter se revelado por conta própria, Ele colocou o destino da sua relação com a humanidade nas mãos de Jesus. A gratidão do Filho ao Pai é o gesto mais nobre daqueles que sabem reconhecer o grande valor do dom que lhes foi dado.
Agora esta missão de revelar o rosto do Pai compete aos seus discípulos. A missão de dar a conhecer a verdadeira identidade de Deus está em nossas mãos. A relação da humanidade com Deus depende também de nós. Não é fácil. Não basta ser “crentes”, precisamos ser críveis para que sejamos o reflexo do rosto de Deus. Jesus sabe desta dificuldade. Sentiu-a em sua própria pele. É por isso, que no momento mais difícil de sua vida, na vigília da hora da sua paixão, não se preocupa consigo mesmo, mas ora pelos seus que ficam no mundo. Em plena crise encontra o tempo e a vontade de se preocupar conosco. Quanto afeto, quanta ternura experimentamos ao ler estas palavras: o Mestre sabe quanto é difícil conservar a fé no meio dos acontecimentos da vida. Por isso nos entrega nas mãos de Deus. É bela a oração se se faz cargo dos/as outros/as, mesmo quando temos muitos assuntos pessoais para tratar com Deus. Mas ainda mais confortante é saber que podemos contar com Jesus que continua orando por nós.
(pe. Xavier Paolillo, missionário comboniano)