A Porta é Estreita, mas fica sempre Aberta
Enquanto Jesus caminhava rumo a Jerusalém, alguém lhe perguntou: “Senhor é verdade que são poucos os que se salvam?”. Jesus respondeu: “Fazei todo esforço possível para entrar pela porta estreita. Porque eu vos digo que muitos tentarão entrar e não conseguirão” (Lc 13,22-30)
Diante de uma resposta como esta, lida logo de manhã cedo, bate o desânimo. Parece mesmo que nascemos para sofrer. Tudo se torna difícil, até o ingresso no Reno dos Céus. Mas não é essa a intenção de Jesus. O Evangelho é notícia boa. É Palavra que traz alegria. A porta é estreita, mas fica sempre aberta. Todo mundo tem condições de passar por ela. Ela é pequena, porque é do tamanho certo. Combina com o talhe da essencialidade. Ela tem as medidas do ser humano assim como ele é, em toda sua simplicidade e originalidade, sem os inchaços do orgulho, os disfarces das vaidades, as gorduras da ganância, as próteses da ostentação, as malas abarrotadas de inutilidades, os bolsos cheios de dinheiro e as listas de méritos e títulos. Como diz o próprio Jesus, ela é feita para quem se faz criança. “Com toda a certeza vos afirmo que, se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no Reino dos céus” (Mt 18,3). A porta se torna grande para quem se faz pequeno e fica estreita para quem se incha de vã glória. O problema, portanto, não está na porta, mas em quem deseja passar por ela.
Não adianta dar carteirada: “Nós comemos e bebemos diante de ti, e tu ensinastes em nossas praças” (Lc 13,27). Deus desconhece estas credenciais. “Não sei de onde sois”, responderá o Senhor. “Afastai-vos de mim todos vós que praticais a injustiça”. Não tem lugar no Seu banquete para aqueles que, tendo recebido o anúncio do Evangelho, não souberam colocá-lo em prática, pelo contrário, criaram uma falsa segurança pensando que, por razões étnicas ou por mérito próprio, deveriam ser os primeiros a participarem da festa. Ele abomina este tipo de “vaidade religiosa” que defende a exclusividade da salvação para uns merecedores e a exclusão daqueles não pertencem a seus círculos restritos. Toda a Revelação bíblica indica que a salvação de Deus tem destinação universal: “Virão homens do oriente e do ocidente, do norte e do sul, e tomarão parte no reino de Deus”. Porém, essa salvação é dom que se oferece, não condição que se impõe. Ela é a expressão da fidelidade do amor de Deus, e só pode ser acolhida também por amor; e o amor não é objeto de especulação teórica, mas um compromisso com atitudes concretas. Jesus responde não com indicações estáticas ou teóricas, mas com uma exortação: “Fazei todo o esforço possível para entrar pela porta estreita”, e com um motivo: “porque eu vos digo que muitos tentarão entrar e não conseguirão”. (Dom André Vital Félix da Silva, SCJ
Portanto, Ele não reconhece seus discípulos pelos títulos, méritos, raciocínios teológico abstratos, discursos bonitos a respeito dele, fórmulas, cerimônias, ritualismos, legalismos e simbolismos religiosos, mas pelo exercício da misericórdia e pela prática da justiça. Identifica-os não pela boa aparência, mas pelo coração que transborda amor e cuidado com a vida, pela boca que dá voz ao grito do oprimido, pelos olhos que refletem a luz da misericórdia, pelos joelhos que se dobram para servir quem precisa, pelos pés que sustentam quem anuncia a paz e pelas mãos que constroem fraternidade e praticam a justiça. Ele não pretende nada para si, mas quer que com Ele e como Ele realizemos obras de justiça para e com os pobres e pequenos.
Será que são poucos os que conseguem fazer isso? A conclusão da parábola é surpreendente. Apesar da porta ser estreita, ela não é para poucos. Todos podem passar. A imagem final, de fato, é um salão cheio de gente vinda de toda parte (Lc 13,29-30). Tem até pessoas que nem sequer fazem parte do nosso entorno e que não tiveram um passado sempre certo. É mérito da misericórdia de Deus que anda por todo lado e recolhe todas as pessoas que, mesmo não tendo todos os requisitos para pleitear uma vaga no Céu, deixam Deus entrar em suas vidas pela porta do coração. A sorte é que Deus se fez tão pequeno que passa por qualquer brecha e, quando é acolhido de verdade, amar como Ele ama e passar pela Sua porta se torna mais fácil.
(pe. Xavier Paolillo, missionário comboniano)