A Rainha a Serviço de Deus e dos/as Irmãos/ãs
Ave Senhora Rainha, mais mãe da Misericórdia do que soberana! Mais mulher do povo do que senhora. Mais serva do que patroa. Mais companheira de caminhada do que “mulher inacessível”. Santa “da porta do lado”, com o pé no chão, sempre atenta aos acontecimentos da vida, buscando e cumprindo a vontade de Deus não fora do mundo, mas nos eventos do dia a dia. Escolhida não pelos teus méritos, mas pela Graça de Deus. Nobre pela tua bondade e generosidade. Pobre, não somente porque não possuías riquezas materiais, mas sobretudo porque te espoliaste de ti mesma. Depuseste do trono o teu EU para deixar o terreno livre para a ação de DEUS. Deixaste de lado teus sonhos, teus projetos, teus amores e até tua reputação, pois encontraste o amor de tua vida. Só Deus te bastou. É essa a pobreza que te enche de compaixão por todas as pessoas que sofrem as consequências das misérias que as afligem.
Mais do que vítima de uma cega obediência, tu tomaste livremente a decisão de deixar-te trabalhar por Deus. Mesmo amedrontada, não ficaste em silêncio. Demonstraste uma grande coragem ao apresentar tuas dívidas e teus questionamentos. Desististe da tentação de fazer-te sozinha e agir por conta própria e aceitaste com alegria de pôr-te nas mãos criativas de Deus para que te plasmasse conforme Sua vontade. Confiaste em Deus, sabias que Sua ação não ia menosprezá-la, mas ressaltar teu valor e tua grandeza. Tu fizeste exatamente o contrário daquilo que fizeram Adão e Eva. Aceitaste tua condição de “criatura” que não é um particípio passado que indica uma ação já concluída, mas é um particípio futuro. Aponta que a criação não é um processo acabado. Continua a vida toda. Ao dizer “faça-se de mim segundo a Tua Palavras” tu autorizaste Deus a “fazer-te nova” a cada dia.
Ouvinte de coração, tu escutaste a Palavra de Deus com atenção, permitindo que Ela descesse até a profundidade de tua intimidade para atingir o centro de tuas escolhas, de tuas opções e de tuas decisões. Nenhuma palavra se perdeu aos teus ouvidos sintonizados com a profundidade do teu ser e, mesmo quando tu não conseguiste entender e aceitar na hora o que Deus te pedia, guardaste a Palavra no teu coração até conseguir digeri-la e assimilá-la através da meditação e oração.
Para ti, porém, a escuta não bastava. A Palavra acolhida no teu coração, adubou de caridade a tua vida, abriu a tua vista às necessidades alheias, colocou asas nos teus pés e encheu de cuidado as tuas mãos. Deixou-te indignada diante das humilhações que os/as pequenos/as padecem. Denunciaste a ganância de poucos que mata de fome multidões de seres humanos. Em ti a escuta se fez serviço. Anunciaste mudanças pessoais e estruturais para desconcertar os corações dos soberbos, derrubar do trono os poderosos, levantar os humildes, saciar de bens os indigentes e despedir de mãos vazias os ricos (Lc 1,51-53).
Para ti, cumprir a vontade de Deus não foi um peso, mas uma alegria. Não foste ingênua. Em nenhum momento Deus te prometeu que tu ficarias preservada da experiência da dor e do sofrimento. Pelo contrário. Sofreste muito, sobretudo aos pés da cruz. Mas nunca te entregaste ao desespero. Mesmo turbada, não perdeste a paz. Até nos momentos de tristeza, o brilho de teus olhos denotava uma inabalável confiança. O motivo da Tua alegria e da Tua esperança foi o olhar misericordioso que Deus te dirigiu em cada instante e a graça com que te envolveu por toda a vida, Foi saber-te amada por Deus que te realizou e te fez feliz.
Aurora da salvação, exemplo de serviço e modelo de discipulado, porta que dá acesso ao Céu. Mulher de luta que encarou corajosamente o “dragão da maldade”, o “pai da mentira”, a “serpente sedutora” que gosta de enganar a humanidade, espoliando-a de sua dignidade. Cantora das maravilhas de Deus e profetisa dos tempos novos que Ele realizará a partir dos pequenos e das pequenas. Tua santidade nunca te afastou de nós. Pelo contrário, assim como te pediu Jesus do alto da Cruz, tu cuidas e tomas conta de nós com grande ternura. Advogada nossa, intercedas com amor materno por nós o tempo todo para que o Pai nunca se canse de nós, mas continue nos sustentando com Sua Graça. A nossa filial devoção, ó Maria, aumente em nós a vontade de te imitar para alcançarmos a tua mesma felicidade. Enfim, não permitas que o título de rainha nos afaste de tuas humildes origens e que as insígnias de poder com que muitas vezes tuas imagens são revestidas sejam mais uma projeção da nossa mania de grandeza e obsessão pelo poder do que uma singela homenagem e reconhecimento filial de tuas virtudes. É bom que lembremos uma vez por todas que o Reino que Deus inaugurou com Seu sim não tem nada nada a ver com os reis, as rainhas e os reinos deste mundo.
(pe. Xavier Paolillo, missionário comboniano)
Ícone Nossa Senhora Mãe de Deus Rainha dos Apóstolos – Arte sacra de Maria Fonseca