A santidade não é nada mais do que a ‘caridade plenamente vivida’
“Eu sou Deus, e não homem; o santo no meio de vós, e não me servirei do terror” (Os 11,9).
Esta é a reação de Deus diante da infidelidade de Seu povo. Apesar de toda a ternura e o cuidado paterno e materno que usou na educação e formação de seus filhos e filhas, só recebe em troca infidelidade (Os 11,1-4). Tem razão de sobra para se deixar levar pela ira e reagir com violência, como agem normalmente os seres humanos quando se sentem traídos, mas estas posturas não combinam com Sua natureza. Apesar da dor da frustração, Seu coração comove-se e arde de compaixão. Sua reação faz a diferença:
“Não darei largas à minha ira, não voltarei a destruir Efraim, eu sou Deus, e não homem; o santo no meio de vós, e não me servirei do terror” (Os 11,9)
Esta é uma das melhores definições da “santidade”. Está em linha com a revelação de Jesus de Nazaré quando anuncia a seus discípulos o “dogma da misericórdia”: “Sede misericordiosos, como também o vosso Pai é misericordioso” (Lc 6,36-38).
A santidade de Deus, isto é, o que o separa e o distingue de todos os outros seres, é mais do que Sua perfeição, onipresença, onisciência e onipotência. A essência de Sua “alteridade”, o cerne de Sua transcendência é sobretudo a Caridade que não conhece limites. Nenhum outro ser é capaz de amar como Ele ama. Deus é Amor. “Aquele que é” – diz uma das mais bonitas páginas do Catecismo da Igreja Católica – revelou-se a Israel como Aquele que é rico em amor e em fidelidade” (Ex 34,6). Esses dois termos exprimem de forma condensada as riquezas do nome divino.
Em todas as suas obras Deus mostra sua benevolência, bondade, graça, amor, mas também sua confiabilidade, constância, fidelidade, verdade. “Celebro teu nome por teu amor e verdade” (Sl 138,2). Ele é a Verdade, pois “Deus é Luz, nele não há trevas” (1Jo 1,5), e “Amor”, como ensina o apóstolo João (1Jo 4,8).
Ao longo de sua história, Israel pôde descobrir que Deus tinha uma única razão para revelar-se a ele e para tê-lo escolhido dentre todos os povos para ser dele: seu amor gratuito. E Israel entendeu, graças a seus profetas, que foi também por amor que Deus não cessou de salvá-lo e de perdoar-lhe sua infidelidade e seus pecados. O amor de Deus por Israel é comparado ao amor de um pai por seu filho.
Este amor é mais forte que o amor de uma mãe por seus filhos. Deus ama seu Povo mais do que um esposo ama sua bem-amada; este amor se sobrepor até às piores infidelidades; ir até a mais preciosa doação: “Deus amou tanto o mundo, que entregou seu Filho único” (Jo 3,16). O amor de Deus é “eterno” (Is 54,8): “Os montes podem mudar de lugar e as colinas podem abalar-se, mas o meu amor não mudará” (Is 54,10). “Eu te amei com um amor eterno, por conservei por ti o amor” (Jr 31,3). Mas São João vai ainda mais longe ao afirmar: “Deus é Amor” (1Jo 4,8.16); o próprio Ser de Deus é Amor.
Ao enviar, na plenitude dos tempos, seu Filho único e o Espírito de Amor, Deus revela seu segredo mais íntimo: Ele mesmo é eternamente intercâmbio de amor: Pai, Filho e Espírito Santo, e destinou-nos a participar deste intercâmbio”. (CIC 214-221)
O bonito dessa história é que Ele não guarda a santidade só para Ele, mas a compartilha conosco. A diferença das divindades pagãs que são ciumentas de seus atributos divinos e fazem de tudo para torná-los inacessíveis aos seres humanos por medo de sua concorrência, Deus infunde abundante e gratuitamente Sua santidade nos nossos corações através do dom de Seu Espírito de Amor.
Ele deseja ardentemente que sejamos santos e santas como Ele é santo ( Lv 11, 45; cf. 1 Ped 1, 16), amando sempre, de graça, sem condições e sem limites. A santidade não é nada mais do que a ‘Caridade plenamente vivida’ (Papa Francisco, Exortação Apostólica “Gaudete e Exultate” n. 21)”.
Pe. Xavier Paolillo, missionário comboniano
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