A Serviço do “Senhor” Errado
Como devemos viver à espera de seu retorno? Jesus nos dá uma direção clara: vestes amarradas ao redor da cintura e lâmpadas acesas. Cingir as vestes na cintura é a atitude de quem se predispõe a colocar-se em caminho e a servir, não como ato esporádico, mas como projeto de vida, como escolha existencial. A “lâmpada acesa” é a figura da oração que ilumina a vida, aclara o caminho e aponta o destino. O fato de permanecer sempre acesa, indica que a vida deve se tornar oração, como aconteceu com Francisco de Assis que, conforme o testemunho de Tomás de Celano, “já não era mais um homem que orava, havia se tornado uma oração viva” (non tam orans, quam oratio factus; o texto é de Segunda Vida 95; Fontes franciscanas 682). Oração e serviço são duas dimensões essenciais para o/a discípulo de Jesus. Servir sem oração é filantropia… ativismo. Orar sem servir é apenas teoria… perda de tempo! Se a oração não nos conduz ao serviço, não é oração verdadeira. Se não nos faz enxergar o ser humano caído na beira da estrada e não nos leva a dobrar-nos sobre seu sofrimento, é uma mera alienação.
É bom ficarmos expertos para não escolher o “patrão” errado. “Sede como pessoas que estão esperando seu Senhor voltar de uma festa”. Não é qualquer Senhor que devemos esperar, mas Aquele que volta de uma festa de casamento. De “senhores” o mundo está cheio, mas um só é o verdadeiro. É aquele que dá a vida. Os outros a devastam, a pisoteiam e a matam sem dor. Somente quem volta da “festa de casamento”, só quem amou até às últimas consequências, somente quem derramou seu sangue na cruz pelo bem da humanidade é capaz de tratar todo ser humano como filho/a, como amigo/a e não como escravo. É pena quando desperdiçamos o óleo da lâmpada da nossa vida a serviço dos “senhores da guerra” que nos massacram, dos “senhores dos engenhos” que nos escravizam, dos “senhores do capital” que nos tratam como objeto de consumo, dos “senhores da política” que abusam de nós para fazer seus interesses, dos “senhores dos meios de comunicação” que nos enganam com suas falsas verdades e dos “senhores da religião” que manipulam as nossas consciências e nos propõem deuses falsificados. O único Senhor que vale a pena esperar é Aquele que vem para dar a vida em abundância.
Felizes seremos se Jesus nos encontrar assim. Assim como? Não revestidos de arrogância e armados até os dentes, mas com os rins cingidos com o avental do serviço (Lc 12,35). Não obcecados e manipulados pela mentira, mas iluminados pela luz da Verdade (Lc 12,35). Não trancafiados no nosso egoísmo, mas de coração aberto, prontos a abrir-lhe imediatamente as portas (Lc 12,36) e a acolhê-Lo quando se apresentar no pobre, faminto, despido, enfermo, aflito, faminto, abandonado, encarcerado, bombardeado, sequestrado… (Mt 25). “Felizes os servos que o Senhor encontrar assim. Em verdade Ele mesmo vai cingir-se, fazê-los sentar à mesa, e passando os servirá” (Lc 12,38).
Que decepção seria para Ele, se voltasse agora. Não nos encontraria assim, servindo-nos reciprocamente ao redor da mesa da partilha, da negociação e da paz, mas no campo de batalha, revestidos de morte, fazendo guerra entre nós e nos matando reciprocamente. Com certeza, não vestiria o uniforme militar e não apoiaria quem, em nome de um estúpido orgulho nacionalista, revestido de falsas motivações religiosas, nega o direito de existir a outros, mas se colocaria prontamente a serviço das vítimas inocentes. Ele não é o Senhor dos exércitos e da guerra, mas é o Senhor da Paz. As guerras no mundo, juntamente com as desigualdades socioeconômicas, o desrespeito pela dignidade humana e a devastação ambiental, são as provas mais evidentes de que estamos servindo o “patrão” errado.
(Pe. Xavier Paolillo, missionário comboniano)