A Teologia e a Mística do Grão de Trigo (Jo 12,20-33)
Quer conhecer Jesus, compreender Sua identidade, entender Sua missão e contemplar Sua glória? Não se assuste! Não vai precisar consultar especialistas ou se perder entre tratados de teologia. Preste atenção ao exemplo de Jesus: “Se o grão de trigo que cai na terra não morre, ele continua só um grão de trigo; mas, se morre, então produz muito fruto” (Jo 12,24). Então, não levante voo para as alturas, mas abaixe-se até o chão, encoste o ouvido à terra, escute a lição do grão de trigo e contemple sua mística. A terra além de ser mãe é mestra e teóloga. Junto com o céu, narra a glória de Deus, como diz o salmista (Sl 19,1).
O grão de trigo é pequeno, mas, mesmo assim, é capaz de fazer coisas extraordinárias. Para Deus tamanho é problema. Ele se veste de pobreza. Não tem mania de grandeza. Apequena-se. Não faz questão de aliar-se com os grandes e os poderosos. Pelo contrário, escolhe Seus parceiros entre os últimos. Coloca ao centro as crianças. Prioriza os pobres. Dá valor aos/às descartados/as. Procura os/as pecadores/as. Esconde-se aos olhos dos sábios e entendidos e se revela aos/às pequenos/às (Mt 11,25). Identifica-se com eles/as ao ponto de afirmar que “Quem acolhe um só destes pequeninos, em meu nome, a mim acolhe”. Nunca está onde se exerce o poder e se usa a força, mas na criança deposta numa manjedoura, na pitada de fermento, no grão de trigo que morre, no pão partido, na bacia de água derramada nos pés dos irmãos/ãs, no avental, no perdão partilhado, no abraço solidário, na amizade perpetuamente oferecida até ao traidor, no túmulo habitado para partilhar o destino do ser humano… Só é possível vê-lo se se aceita a economia da gratuidade, se se toma o caminho em descida, se se chega a compreender que a limitação, a fragilidade, a fraqueza e, em última instância, a morte, são as linguagens preferidas por Deus para se tornar conhecido e compartilhar a Sua Vida. (pe. Antônio Savone).
O grão de trigo, mesmo aparentando ser duro e sem vida, guarda dentro de si um tesouro precioso: o gérmen da vida. Não vê a hora de gerá-la e partilhá-la. Deus também contém em si a fonte da vida que não morre mais. Ele não guarda esse dom para si, mas o partilha conosco. Envia Jesus para que todos tenham a vida do Eterno em abundância (Jo 10,10).
O grão de trigo tem uma relação de amor com a terra. Entrega-se confiante às suas entranhas porque só assim ele pode gerar vida. Deus também gosta da terra. Parece até um agricultor. Quando o Filho fala d’Ele tira as melhores comparações da vida da roça. Deus confia na terra e a ama a tal ponto que entrega Seu Filho amado não para condená-la, mas para amá-la ainda mais e salvá-la (Jo 3,16). Seu sonho é que o Evangelho não se perca pela nossa superficialidade, não fique sufocado por puros interesses, não gere respostas efêmeras, nem fique guardado na prateleira ou em cima do ambão, mas que se torne luz, sal e fermento da terra (Mt 5,13-16), pois sua intenção não é acabar com ela, mas renová-la.
O grão de trigo age silenciosamente, escondido nas entranhas da terra. Não gosta de aparecer nem tampouco de efeitos especiais. Também Jesus não está a caça de sucesso nem busca a glória humana. Seu único desejo é que Deus seja glorificado, isto é, revelado naquilo que Ele mais gosta de ser e fazer: amar.
O grão de trigo se consome até à morte para que o gérmen nele contido tenha energia suficiente para brotar e crescer até se tornar uma espiga dourada. Morre para dar vida. A sua, porém, não é uma mística do sacrifico, mas da fecundidade. Na sua dinâmica não se prioriza a morte, mas a vida. Gerar trigo está acima de tudo e por isso está disposto a tudo. Assim acontece com Jesus. Quer ver? Com os joelhos ainda no chão, levante os olhos para a cruz e contemple o que você vê. A mística do grão de trigo vai te ajudar a compreender que pendurado nela não está um homem derrotado, mas um Deus apaixonado. Para além de seu corpo dessangrado e desaguado existe uma transpiração e efusão de vida doada. Em resposta à maldade humana há a manifestação plena do amor de Deus. Aquela que aos olhos das pessoas parece a afirmação de um fracasso, uma estupidez ou uma loucura, é a hora da glória de Deus. Como para o grão o orgulho é ter gerado o trigo e levado alegria às mesas das pessoas com a flagrância e o sabor do pão produzido de sua farinha, assim para Jesus a glória é ter conseguido revelar através de toda sua vida e, sobretudo, por meio da sua paixão e ressureição, o tamanho do amor do Pai. Glorificar a Deus é conceder-lhe a oportunidade de revelar quanto é capaz de amar.
Compreender isso até que não é difícil. Só não entende quem não quer. Agora o desafio é dar glória a Deus dando-Lhe a chance de revelar Seu amor através da doação de nossas vidas. Nisso consiste a vida plena. Como diz Jesus, quem se apega à sua vida perde-a; mas quem a doa por amor e a investe na autêntica felicidade alheia, além de ajudar a salvar os outros, recebe em dom a alegria de viver como o Eterno desde já. Esta sim que é VIDA.
(pe. Xavier Paolillo, missionário comboniano)