Amar é escolher o Paraíso(Jo 21,15-19)
Jesus escolhe Pedro. Sai à procura dele entre humildes pescadores. Guarda-o para si, apesar de sua teimosia. Continua confiando nele, embora se obstine a pensar como o diabo e não como Deus. Conta com Ele, mesmo que tenha dificuldades para entender e aceitar a Sua Palavra. Encara-o nos olhos e o ama também quando o renega e vai buscá-lo à beira do lago para onde tinha voltado após ter ficado decepcionado com tudo aquilo que acontecera.
O diálogo é personalizado. O assunto principal é o amor. Acontece num contexto delicado. O Ressuscitado manifesta-se para esclarecer um assunto que ficou pendente: toda a comunidade dos apóstolos, exceto o discípulo amado, o abandonara no Calvário, quando Ele manifestava a sua glória amando até às últimas consequências. Os apóstolos não estavam prontos para um amor tão grande. Deram-se à fuga. Pedro até o renegou. A quem lhe perguntou se era um seu discípulo, respondeu que não o conhecia. Naquele momento ele não estava mentindo. Atrás da mentira usada para salvar a própria pele escondia-se uma desafiadora verdade. Ele ainda estava longe de conhecer e aceitar plenamente a proposta do Mestre. Nenhum deles tinha passado pelo teste. Decepcionados pelos últimos acontecimentos, preferiram voltar às suas atividades habituais. Mas Jesus não desiste. Sai em busca deles, não para repreendê-los, mas para amá-los. Só amor é capaz de curar as feridas que continuam abertas e custam a cicatrizar. A conversa acontece imediatamente após comerem juntos. Não é difícil fazer a referência à liturgia eucarística. Portanto, deve acontecer sempre após a Comunhão Eucarística. Parte da situação do interlocutor. Por três vezes Jesus pergunta a Pedro se o ama. O número é simbólico. Soa como reparação da tríplice negação de Pedro e como ratificação de um compromisso, conforme o costume semítico (Gn 23,7-20). Nas duas primeiras vezes o Ressuscitado usa o verbo ‘agapao’ que vem de agapé. É o mesmo verbo usado nos evangelhos para falar do amor de Deus. Agapé é um termo grego que vem sendo traduzido por “caridade”. Esta palavra hoje em dia está desprestigiada. Atualmente “caridade” ou “fazer caridade” para muitas pessoas significa “dar uma esmola” ou “uma ajuda esporádica” ao necessitado. Isso é importante, sobretudo nas emergências. Mas a palavra diz muito mais. Fala de um efetivo comprometimento da pessoa que se doa no mais profundo de seu ser. Agapé é o amor incondicionado, que não conhece limites e interesses.
A resposta de Pedro mostra como sua experiência dolorosa o transformou. Em primeiro lugar, recusa a comparação com os outros. Cada um/a ama do seu jeito. Todo jeito de amar inspirado por Deus merece respeito. Depois, sabendo que Jesus sabe tudo, não o enrola com conversa fiada: “Senhor, sabes tudo, tu sabes que te amo”. Enfim, reconhecendo sua fragilidade, não ousa usar o verbo que Jesus utiliza. Usa o verbo ‘fileo’, que é o usado para descrever a amizade, pois reconhece que ainda não está à altura de amar como é amado por Deus. Qual é reação de Jesus? Ainda uma vez é surpreendente. Para evitar constrangimento, desce ao nível de Pedro. Adequa-se à sua condição. Na terceira pergunta usa o mesmo verbo de Pedro, ‘fileo’, porque compreende, através da resposta dele que ainda não está pronto para amar como Deus ama. A atitude de Jesus, além de revelar sua sensibilidade, sublinha a gratuidade de Seu amor. O amor desinteressado não depende da resposta. Não é proporcional à contrapartida. É sempre excedente. Inclusive ama até quem não o ama. É absolutamente de graça. Jesus não despreza Pedro. Adequa-se ao seu ritmo. Caminha conforme o seu passo. Antepõe a compreensão a qualquer exigência. Quanto mal fazemos às pessoas quando impomos sobre seus ombros pesos que ainda não estão prontas para carregar. Jesus escolhe Pedro assim como ele é, com suas potencialidades e suas fragilidades. Sua graça o transformará. Apesar de suas dificuldades, confia nele e lhe entrega a tarefa de pastorear o seu rebanho. Não espera ele estar pronto para confiar-lhe responsabilidades. Bota fé nele. Assim como ele confia em Paulo, apesar de seu passado. Os homens terão dificuldade em crer na conversão do Apóstolo. Seu passado permanecerá sempre como um espinho dolorido em sua alma. Mas Jesus confia cegamente nele e confia-lhe a tarefa de ser o apóstolo dos gentios. A fragilidade dos dois não é motivo para Deus não confiar porque existe a Graça. O perigo é quando se pretende avançar sozinhos, sem contar com a graça, com a arrogância da autossuficiência e da onipotência. As coisas desmoronam quando se pretende agir sem Deus e Sua Graça. Jesus não busca a perfeição. O importante para Ele é a disponibilidade das pessoas para se deixarem moldar pelas Suas mãos. É decisivo para Ele que seus colaboradores sejam capazes de amar. Os fatos Lhe deram razão. A história confirmará sua confiança. Tanto Pedro como Paulo fizeram justiça ao Seu chamado porque ambos deram a vida pelo Evangelho.
Hoje celebramos a memória de São Filipe Neri, o santo da alegria e da caridade. “Eu prefiro o paraíso”, costumava dizer. Escolher o Paraíso é dar valor ao que realmente importa, é promover a felicidade no lugar onde estamos, é viver em sintonia com o Evangelho para que todos/as tenham vida em abundância. “O amor nos dá o poder de estar no Céu desde agora, de sermos felizes com Ele neste momento, se amamos como Ele nos ama, se ajudamos como Ele nos ajuda, se doamos como Ele doa, se servimos como Ele serve” (Santa Teresa de Calcutá). São Filipe interceda por nós e por todos aqueles/as que dedicam sua vida à educação das crianças, adolescentes e jovens. Neste mundo tão triste e mal amado, eduquemos-nos com bom humor e com amor.
(pe. Xavier Paolillo, missionário comboniano)