Amar os Inimigos: O Caminho da Perfeição no Amor
“Sede perfeitos como o vosso Pai é perfeito!” (Mt 5,48). É com estas palavras que Jesus conclui o Discurso da Montanha. A afirmação é forte demais. À primeira vista, parece apontar uma meta inalcançável. A natureza humana não tem os pressupostos para cumpri-la. Apesar de todo o nosso empenho em sermos cada vez melhores, carregaremos boa parte de nossos defeitos ao longo da vida, até o túmulo. Sair em busca da perfeição, entendida como ausência de limites, é a viagem mais desastrosa que possamos realizar. É fadada ao fracasso. Além de desgraçarmos a nossa vida torturando-a com nossa mania de perfeição, infernizaríamos também aquela das pessoas que vivem ao nosso redor. Não é isso que Jesus exige de seus discípulos. Mateus já dá uma primeira dica: sede perfeitos como o Pai e não quanto o Pai. A comparação de Jesus é qualitativa, não quantitativa. Ele convida seus discípulos a imitar o jeito de ser e viver do Pai. Deus é Amor. Ele é perfeito não tanto porque é onipotente, onipresente, onisciente, mas porque ama desinteressadamente e até as últimas consequências todos/as, até seus inimigos. É perfeito no amor. O evangelista Lucas entendeu muito bem isso quando diz: “Sede misericordiosos com o Vosso Pai é misericordioso”.
Eu sei que tudo isso parece loucura. Até os meus ouvidos doem ao ouvir estas palavras de Jesus, pois não é fácil perdoar quem nos faz mal. Nestes dias, meu coração anda cheio de indignação. O motivo da minha indignação é o abuso de poder, o desperdício de dinheiro público em megashows que não têm nada a ver com o espírito das festas juninas, a maneira rasteira e vulgar como se debatem temas dramáticos como a violência contra mulheres, a corrupção e a maldade das autoridades constituídas pelo voto popular para se colocar a serviço do bem comum e não para praticar o mal. A oportunidade de me indignar ainda mais vem da própria Sagrada Escritura. Nestes últimos dois dias, justamente ao lado dos trechos do Discurso da Montanha, a Igreja nos propôs a triste história de Nabot, que foi vítima do abuso de autoridade de Acab e das tramas perversas de Jezabel. Aquela dramática história, contada em 1 Reis 21,1-29, se repete continuamente entre quem tem poder econômico, político ou religioso. Como conjugar o perdão aos inimigos com a indignação pelas maldades e iniquidades cometidas pelos abusadores de poder? Como podemos amar esses cafajestes que deixam os hospitais sem medicamentos, os doentes sem cura, as crianças sem educação, as famílias sem moradia, as cidades sem infraestruturas, o povo andando na lama de descaso público? O único jeito de amar os abusadores de poder é a coragem e ousadia profética de Elias, que desmascara suas atitudes perversas e as denuncia, pois eles mesmos estão desgraçando suas vidas, além de acabar com a vida dos mais pobres. O silêncio da omissão para salvaguardar alianças interesseiras nos coloca no mesmo lamaceiro dos corruptos.
(Pe. Xavier Paolillo, missionário comboniano)