
Árvores, para quê?
Escrevo faltando dois dias para início da primavera e também, o dia previsto para ser o mais quente do ano, da última década. Talvez, com a cabeça quente, possamos pensar melhor sobre o meio em que vivemos. A primavera nos prepara para a chegada do verão, mas se a primavera já inicia com o alarde da temperatura chegar a 45º, o que nos reserva o verão?
O que ainda falta para nos empenharmos para reverter este quadro que já nos foi pintado tantas vezes e que nos cheira a queimado? A cada dia a impressa registra e nos mostra os efeitos provocados pela natureza que clama por ajuda. Esta mesma natureza que não é vista, não é sentida, ao menos, até quando se volta contra nós. Seja um ciclone que nos faz girar a cabeça em um redemoinho e nos traz intensas chuvas, seja a seca que prova a redução drástica das navegações pelo Rio Amazonas.
Só sentimos o que nos toca! Será que todas essas questões climáticas não conseguem nos tocar? Ainda não nos percebemos parte deste ambiente? Vivemos uma sociedade que transformou tudo em produto para ser vendido e lucrado. Enxergamos as matas, os pampas, o cerado e a caatinga como espaços a serem explorados ao extremo, comercializado, vendido, lucrado, para depois, arrumarmos um culpado por não termos onde ficar em paz.
Hoje, o Dia da Árvore nos ajuda a lembrar daquela arvorezinha que ainda insiste em manter-se viva na nossa calçada ou no outro lado da rua. Lembro de uma vizinha que pediu para cortar os galhos que não via limites para crescer e ultrapassava o muro dentre as casas. Por quê? As folhas e as carambolas que caíam sujavam o seu quintal. As plantas e flores arrancadas no jardim da praça para serem jogadas na rua, em nada atrapalharam a vida daqueles que ali passaram. Não somos tocados por aqueles que não conseguem nos atingir, nos amedrontar.
E cada árvore arrancada e em cada animal exterminado, uma parte de nós também morre. E assim, vamos morrendo aos poucos, gota a gota, folha por folha, se nos darmos conta de que o chão que pisamos, o ar que respiramos, o alimento que nos nutri a cada dia, fazem parte desta mesma natureza. Nós dependemos dela para assegurar nossa existência, mas ela vive melhor sem a nossa presença.
Por Tranquilo Dias,leigo missionário comboniano