
Bolsonaro e igreja católica: Amazônia, agro negócio ou vida
Temos 12 anos de tempo para reduzir o aquecimento global; os próximos 48 meses serão decisivos, porque qualquer nova política ambiental vai ter efeito só em médio prazo. O desmatamento da Amazônia já chega a 20%. Governo de Bolsonaro e setores conservadores da igreja na contramão…
Uma escolha difícil, mas urgente
Dizem que será sua última contribuição, para depois deixar que outro Papa siga o caminho.
Sínodo significa exatamente caminho feito juntos; Papa Francisco está apostando muito nisso, antes com as famílias, depois as juventudes e, agora, a Amazônia.
Brasília e Vaticano em confronto?
Conversão à Sinodalidade
Esta é talvez uma da mais difíceis conversões para a Igreja. Nasce da convicção que o Espírito de Deus fala a todos os fieis, chamados a participar ativamente na vida da Igreja, em atitude de escuta, discernimento e compromisso comum. O oposto do clericalismo…
O Sínodo envolveu quase cem mil pessoas, nos nove países da Panamazônia. Trabalhamos intensamente, promovendo assembleias territoriais, grandes encontros interdiocesanos, foruns temáticos, rodas de conversa, encontros nas fronteiras, seminários acadêmicos, percursos de estudo com as juventudes…
Conversão Pastoral
Uma segunda conversão à qual o Sínodo nos desafia é aquela pastoral. Precisa concretizar o lema “Igreja em Saída”, e vencer a tentação da simples autopreservação. O Documento de Trabalho do Sínodo convida a superarmos “uma tradição colonial monocultural, clerical e impositiva”. Precisa que o Sínodo faça propostas “valentes”, exorta o Papa!
Conversão Ambiental – Ecologia Integral
A coragem se torna profecia, no contexto da emergência climática e da irresponsabilidade política de muitos países. É a terceira conversão, aquela ambiental, à luz do princípio da Ecologia Integral.
Não há mais tempo a perder, dizem unânimes muitos líderes religiosos, boa parte do mundo da ciência, alguns políticos iluminados e, especialmente, o grito dos povos e da Terra, em agonia. Temos 12 anos de tempo para reduzir o aquecimento global; os próximos 48 meses serão decisivos, porque qualquer nova política ambiental vai ter efeito só em médio prazo. O desmatamento da Amazônia, que já chega a 20%, vai provocar uma irrefreável savanização, se for superado o limite que os cientistas hoje põem entre 25 e 40% de desmatamento.
O genocídio dos povos indígenas e as ameaças de morte às comunidades que defendem seus territórios avançam ao mesmo ritmo avassalador.
Críticas externas e internas
Toda conversão incomoda e dói. Por isso o Sínodo está sendo tão fortemente criticado.
O condenam alguns movimentos conservadores, fundamentalistas: minoritários, mas economicamente fortes, estão fazendo barulho sobretudo através das redes sociais. Não têm nenhuma experiência pastoral e pouquíssima presença física na Amazônia.
O desqualificam alguns guardiões da doutrina, que já em outros momentos expressaram suas críticas sobre a teologia de Francisco. O conflito é entre a Tradição (frequentemente confundida com a inculturação europeia da fé cristã) e o diálogo entre as diversas culturas (a Conferência dos Bispos Latinoamericanos em Aparecida dizia, ainda em 2007, que precisa “Descolonizar nossas mentes”).
O atacam alguns governos que, juntos com o capital das multinacionais, planejam para a Amazônia ocupação e saque, ao oposto daquilo que o Sínodo escutou, nas propostas das comunidades sobre seus territórios.
Papa Francisco e Sínodo para a Amazônia
“A Amazônia é uma terra em disputa”, reconheceu Papa Francisco no primeiro encontro do Sínodo, em janeiro de 2018 em Porto Maldonado, entre os índios do Peru.
O caminho da Igreja não pode fugir de todos estes conflitos; a memória das vítimas não deixará o Sínodo dormir. Entre os mártires que mais temos no coração está pe. Ezequiel Ramin. Missionário comboniano, foi morto em Rondônia por estar defendendo o direito à terra e a dignidade dos povos indígenas. O consideramos um dos padroeiros do Sínodo.
Não, não há dúvidas: com todos estes desafios e oportunidades, Papa Francisco não vai afastar-se tão facilmente do povo de Deus, em busca de novos caminhos para a Igreja e a Ecologia Integral! Que o Espírito o ilumine e nos acompanhe enquanto caminhamos…
Dario Bossi, comboniano
NOTA: O Pe. Dario Bossi, articulador juntamente com a REPAM, durante a longa e intensa fase de ESCUTA do sínodo, é membro de direito na Assembleia do Sínodo, representando o Pe. Tesfaye Gebresilasie, superior geral dos Missionários Combonianos em Roma. Acompanhamos e rezamos pelo Sínodo.