Brilhe a todos a Vossa Luz
A lâmpada de que fala Jesus no Evangelho de hoje (Lc 8,16-18) era um frágil objeto de barro. Quebrava facilmente. Em si e apagada, não tinha grande valor. Só se tornava útil quando estava cheia de óleo e o pavio ficava aceso. Então, saia da gaveta e era colocado no lugar mais alto da casa para que a iluminasse com a sua luz e a esquentasse com seu calor.
Não precisa de muito esforço para ver nela o retrato da condição humana. Como a lâmpada, também nós somos feitos/as de barro. Como o barro, somos frágeis, quebradiços, limitados, portanto, necessitados de permanente cuidado. Em si, não teríamos nenhum valor, se não fossem as mãos do Oleiro que nos modela, o som de Sua Palavra que nos dá à luz, o sopro da vida que Ele halita em nossas narinas e o fogo do Amor que acende em nossos corações. Sem isso, seriamos vidas insignificantes, apagadas como as lâmpadas de barro sem óleo, sem pavio e sem luz. Nossas existências poderiam ser guardadas nas gavetas da história sem que ninguém sentisse falta delas. Jesus, ao contrário, nos quer lâmpadas luminosas, brilhando não de luz própria, mas reflexos de Sua Luz, colocadas na parte mais alta da casa, não pelo o orgulho de aparecer, mas para sermos pontos de referência luminosos para quem está perdido nas trevas. Para tanto, precisamos estar permanentemente abastecidos com a Luz de Sua Palavra e aquecidos à chama de Seu Amor. É característica da luz ser intrinsecamente extrovertida. É feita para os outros. Não chama a atenção para si, mas para as realidades que são por ela iluminadas. É assim que Jesus quer seus discípulos. Não preocupados consigo mesmos, mas para com os outros, oferecendo-lhes luz, sobretudo nos momentos mais sombrios. No Discurso da Montanha, Jesus não hesita em dizer que os seus discípulos são luz do mundo. Nada de fugir do mundo ou de se esconder dele. Nada de ficarmos apagados, em “off” ou em “stand by”. Quer que fiquemos no mundo iluminando-o. Trata-se de uma identidade a ser guardada e permanentemente alimentada. Não temos a luz. Somos a luz. E a luz não pode deixar de brilhar.
Ora, a luz não brilha antes de tudo na eloquência da palavra, mas no esplendor das obras: que vejam as vossas boas obras. Somos luz se formos capazes de iluminar a existência de alguém que anda pedido nas trevas. Nossa lâmpada brilha se na noite da dúvida ou na escuridão da tristeza formos capazes de ajudar a abrir brechas de esperança. Somos brilhantes quando nos colocamos a serviços dos outros, vivemos a partilha, acolhemos e respeitamos todo mundo, os nossos relacionamentos são vividos em paz e nada se torna motivo de discórdia. A luz passa pelo pão compartilhado, pelo abraço solidário, pelo cuidado, por passos apressados em direção a quem sofre e fica à margem da sociedade e pela esperança alimentada. A luz se espalha graças a um coração capaz de hospitalidade sincera. Nunca se tornará uma pessoa radiante quem continua a fixar seu olhar apenas em si mesmo, quem manipula a Palavra para defender seus interesses, quem distorce o Evangelho, quem vive de mentiras, fortalece os preconceitos, alimenta o ódio e age com violência. O interessante é verificar que quem ilumina os/as outros/as se ilumina e brilha ainda mais. Nossa luz, de fato, vive da comunhão e se alimenta com o amor e o cuidado com a vida (pe. Antônio Savone).
São João diz que quem ama caminha na luz. O amor, contudo, torna-se visível e luminoso quando é oferecido com modéstia, humildade e discrição. O brilho da Caridade não tem nada a ver com exposição e protagonismo. A escolha de ostentá-la não é nada evangélica. Feliz quem, na hora de ingressar definitivamente no Reino de Deus, descobrir que na vida terrena foi luz para alguém, mesmo sem sabendo.
(pe. Xavier Paolillo, missionário comboniano)