Brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai que está nos céus
No nosso trabalho pastoral, achamos Deus onde e em quem não pensávamos encontrá-lo. Mas não é qualquer olhar que consegue enxergá-lo. Só conseguimos vê-lo e reconhecê-lo se nosso olhar for iluminado pela luz do Cristo Ressuscitado. O olhar é decisivo. Ele é mais importante do que nossos planos pedagógicos e pastorais. O olhar – dizia Rubem Alves – tem o poder para despertar e para intimidar a inteligência racional e afetiva das pessoas. O ser humano, vítima de um olhar amedrontador ou de um olhar de desprezo, fica retraído e amedrontado e não desenvolve o melhor de si. Ao contrário, o “olhar do coração” doa ao outro a percepção de seu valor. O olhar com os olhos da benevolência é a única maneira de fazer vir à luz o que de melhor existe nas pessoas. É o olhar da fé: aposta sem ver; é o olhar da transcendência: sabe que o ser humano é muito mais do que aquilo que aparenta ser; é o olhar da esperança: espera sempre o melhor. Sabe que todo mundo nasceu para dar certo. É o olhar de cuidado: enxerga o que é bom; compreende antes de exigir; acolhe no lugar de expulsar; ama acima de qualquer outra atitude. É olhar com os olhos do coração. É olhar com os olhos de Deus, que enxerga o trigo no lugar de se concentrar no joio e se encanta porque, apesar de tudo, ainda resta intacta a semente da vida do eterno que plantou em cada ser humano. O olhar de Deus não se adquire de uma vez por todos, mas é o resultado de um longo processo de discernimento e conversão. É se deixar iluminar pela Palavra e optar por ver a luz somente à luz do Ressuscitado. O olhar de quem faz ressaltar a luz que existe nas outras pessoas, só nasce de um coração iluminado. Um coração iluminado é um coração que se sente amado por Deus, que descobriu o sentido profundo da vida, um coração que vive com entusiasmo no momento presente sem se deixar vencer pelos desafios de cada dia; mais ainda: um coração iluminado é aquele que descobriu a alegria e a força de amar e é também aquele que optou com decisão pelos valores que constroem a pessoa e permitem que a humanidade possa se tornar gente de verdade. Dedico esta minha reflexão a todas as pessoas que militam nas pastorais sociais e que, por causa deste compromisso nem sempre são bem-vistas e bem-acolhidas nas nossas comunidades e na sociedade em geral. Não deixem que a tristeza da incompreensão e o sofrimento da perseguição apaguem a luz de seus olhos e extingam o calor da ternura combativa de seus corações. Seus olhares luminosos são decisivos para acender centelhas de luz onde as trevas parecem dominar. Com afeto e admiração, Pe. Xavier, missionário comboniano.