Campanha da Fraternidade 2024: Convivência humana conduzida pela tecnologia
Neste ano, a campanha da fraternidade busca provocar uma reflexão pessoal e coletiva sobre o relacionamento interpessoal. Como estamos convivendo com quem nos cerca e com quem não está tão próximo assim?
Quando os primeiros robôs (humanóides ou não) começaram a aparecer em comerciais de TV, em reportagens e documentários, era comum ouvir que as máquinas estavam sendo produzidas à imagem e semelhança do ser humano. Especulava-se que estas máquinas seriam aperfeiçoadas e se tornariam quase humanos. Filmes, líderes de bilheterias e críticas mostravam robôs futuristas que voltavam ao passado e assumiam a persona humana.
O tempo passou e com ele também passaram alguns desses filmes. Novas produções revelam um futuro ainda mais dependente das máquinas. O assunto do momento são as inúmeras inteligências artificiais (IA), essas sim, consideradas as substitutas dos seres humanos nas atividades repetitivas. Capazes de criar, de manipular bilhões de dados e de apresentar respostas para as muitas questões, presentes em nosso dia a dia. As IA fazem os olhos dos futurólogos brilhar, quando avaliam as possibilidades futuras, como por exemplo, dotar os robôs com aparência humana de uma inteligência artificial capaz de superar as habilidades humanas.
Mas algo não seguiu esta lógica evolucionista ou revolucionária: não são as máquinas que estão se tornando semelhantes ao ser humano, mas são estes que estão assumindo características das máquinas. As redes sociais permitiram que todos possam ter voz e vez. A pessoa se sente imbuída de uma obrigação de falar (ou escrever) sobre tudo e sobre todos, mesmo sobre o que não conhece ou sobre quem nunca viu nem conviveu.
Máquinas não possuem filtro social, computadores não são dotados de coração e algoritmos não questionam. E assim, a sociedade vai se moldando à imagem e semelhança do artificial. De uma inteligência programada, de capacidades construídas por seres humanos e vivendo em uma realidade binária (somente de zeros e uns). Nada mais.
Debates calorosos escondem os seres humanos por meio de ‘nicknames’ isto é, apelidos. Perseguições são travadas por grupos de ‘haters’ que só disseminar=m ódio. O ódio pelo ódio. Tais pessoas não precisam de motivo, basta ser diferente: no pensar, no escrever ou no viver. Deixamos de ser capixabas, goianos ou mineiros, para nos tornarmos membros de um grupo que tem ódio a alguém ou a algum grupo. Sua identidade é ser “anti-isso” ou “anti-aquilo”.
A vida é plural desde a sua concepção. Vivemos em grupos sociais diversos. Lidamos com conhecimentos e experiências diversas, mas fomos atingidos justamente por aquilo que considerávamos a nossa melhor criatura: a tecnologia digital. A criatura superou o criador? Seremos capazes de manter nossas características humanas de convivência com outros humanos?
Estamos aprendendo e descobrindo estas respostas vivendo cada dia: nos desafiamos a compreender todos esses movimentos sociais e digitais. Refletindo sobre o que acontece e como chegamos até aqui, muitos dirão que a causa foi política, outros dirão que é chegado o fim dos tempos, mas há aqueles que consideram tudo isso uma normalidade, até mesmo esperada.
Conviver fraternalmente é possível porque sabemos como fazer: conviver com o diferente e com as diferenças. Saber que quando estamos off-line, ou desconectados, é quando estamos vivendo de fato.
A amizade sempre foi o nosso elo de ligação, aquilo nos conecta com o outro, com a outra. Por aquilo que nos torna semelhantes, como também pelas diferenças. Não pelo sentimento de superioridade, mas pela humildade que nos torna inclusivos. Não por nos considerarmos detentores da verdade, mas facilitadores de colaboração. O social é o que nos reúne, e nos mostra a grandeza que nos humaniza e nos permite caminhar juntas e juntos. Cada pessoa é uma pequena parte, mas é da maior importância.
Tranquillo Dias, leigo de Carapina-ES