CF 2017 e Sudão: Um gesto de amor contra violência e morte
Dou-vos a minha paz (Jo 14,27)
O Sudão do Sul é o país mais recente, mas tem uma longa história de violência, guerra, morte e toda a sorte de desgraças! Trazemos aqui para você uma série de testemunhos autorizados e verídicos de quem viveu ao lado de nossas irmãs e irmãos martirizados…
Papa Francisco
No final da audiência de 22 de Fevereiro, o Papa Francisco fez um apelo em favor do Sudão do Sul, um país devastado por anos de guerra civil cruel e de seca, em algumas áreas das quais foi decretado estado de “catástrofe alimentar”. “Particular preocupação – disse o Papa – provocam as notícias dolorosas provenientes do martirizado Sudão do Sul, onde, a um conflito fratricida, se junta uma grave crise alimentar que atinge a região do chifre da África, condenando à fome milhões pessoas, incluindo muitas crianças. Neste momento, é mais necessário do que nunca o empenho de todos para não ficar apenas em declarações, mas para tornar real a ajuda alimentar, permitindo que esta possa chegar aos povos que sofrem. Que o Senhor sustente esses irmãos e aqueles que trabalham para ajudá-los”.
P. Christian Carlassare
É missionário comboniano e trabalha desde 2004 no Sudão do Sul. Hoje escreve uma carta onde nos fala da “longa Quaresma” do povo do Sudão do Sul. “Grupos armados parecem fora de controle. A população é colocada na cruz, especialmente os mais expostos e indefesos. Não há por onde fugir: ou nos revoltamos, usando os mesmos meios daqueles que oprimem e acabam por desumanizar ainda mais o país, ou aceitamos esse martírio todos os dias até conseguir sobreviver sem retribuir o mal com o mal, mas continuando a alimentar o sonho”. É, pois, uma boa meditação para começar a nossa Quaresma!
Teresa Zenere
Missionária secular comboniana escreve: ”Esperamos que esta tragédia não passe despercebida, e o mundo não finja que não vê. São Daniel Comboni interceda pela terra que ele amou, serviu e pela qual deu sua vida”.
P. Raimundo dos Santos
É missionário comboniano brasileiro. Trabalha no Sudão desde 2010. Assim escreve: “A crise econômica se agravou e a inflação chega a 700% ao ano. Há muita gente passando fome e doente. Além disso, a insegurança tem aumentado. Há muito roubo e assaltos a residências, geralmente com vítimas. O discurso de ódio e incitação à violência entre os diferentes povos tem aumentado. São constantes os assaltos nas estradas e também com vítimas, inclusive mulheres e crianças. Ser jornalista aqui passou a ser profissão perigosa. Alguns perderam a vida, outros foram presos e torturados. Os serviços básicos funcionam precariamente. Em tudo a população paga um preço muito alto pela guerra gananciosa mantida pelos (des)-governantes. Protestar é muito perigoso. O povo sofre em silêncio, mas está revoltado. Há, porém, notícias boas e sinais de vida e esperança.”
Tahrat Shahid
“A comunidade global não pode se dar ao luxo de ignorar as advertências desta vez. Sem um financiamento adequado, centenas de milhares de pessoas, talvez mais de um milhão de crianças, podem morrer e muitos mais serão forçados a fugir de suas casas em busca de alimentos que salvam vidas (…). Os países doadores devem investir agora em soluções de desenvolvimento a longo prazo para prevenir mortes e respostas humanitárias humanitárias muito mais caras no futuro.”
P. Michael Barton
Na sexta-feira tudo estava pacífico em Motot, Sudão do Sul. No sábado, porém, todos nós estávamos fugindo enquanto as forças do governo vinham de Yuai e Pathai. Os tanques chegaram matando muitas pessoas, mas eu já tinha saído para a missa e para visitar os doentes em Waat. No meu caminho eu passei por muitos jovens indo para Motot para participar na luta e saque. Embora Waat estivesse na maior parte deserta quando eu cheguei, a casa do missionário foi preparada bem para mim. Depois, naquela tarde, alguns rebeldes vieram e me acusaram de apoiar o inimigo. Eles levaram meus óculos. O catequista da capela e algumas mulheres conseguiram recuperar meus óculos e obrigaram eles a se desculpar. Não dormi bem, mas ainda celebrei a eucaristia em Waat na manhã de domingo com poucas pessoas. Foi pacífico e as tropas do governo recuaram para Yuai. O presidente Salva Kiir Mayardit está pedindo ajuda para as vítimas de fome, mas ele é a principal causa da fome.
P. Jesus Aranda
“Ser refugiados é uma experiência nova que estamos vivendo. Deixamos a missão a 6 de Fevereiro para tratar dos documentos; mas tudo se complicou tão rápido que em poucos dias a nossa área se tornou um campo de batalha. Tem sido difícil e doloroso não poder voltar a nossa missão e ser parte dos refugiados. Mas é esta a nossa situação e de milhares de pessoas.”
Direcção Geral dos Missionários Combonianos e superiores provinciais
“Queridas irmãs e irmãos no Sudão do Sul,
Saudamos-vos no nome de Jesus. São Daniel Comboni tinha um grande amor por vós, «o primeiro amor» da sua juventude.
Sofremos convosco nestes tempos indizíveis de miséria e morte, e seguimos a vossa situação com grande preocupação.
O sonho venturoso do Dia da Independência foi estilhaçado pela guerra que rebentou em Juba e, como um fogo na floresta, alastrou-se lentamente a todo o país.
O sangue de milhares de civis e militares mortos grita pela paz; os feridos e as mulheres violadas precisam de tratamento, conforto e justiça.
Rezamos sinceramente para que a paz regresse ao Sudão do Sul!
Oramos por seus políticos, porque eles podem olhar para além dos interesses pessoais ou de grupo e comprometer-se em um diálogo nacional profundo de perdão, de reconciliação e de reparação!
Oramos por seus líderes religiosos, para que possam orientá-los através de caminhos de perdão, até pastagens de harmonia e paz!
Pedimos aos cristãos para invocar Cristo; “Ele, de fato, é a nossa paz, que fez de dois um só, e derrubou o muro de separação que os dividia, isto é, a inimizade, através de sua carne” (Ef 2,14).
Seguindo o exemplo do papa Francisco e unidos a ele, pedimos à comunidade internacional que continue a assistir-vos com ajuda alimentar e medidas de segurança eficazes, para aliviar vosso grande sofrimento.
Nós pedimos a bênção de Deus sobre cada um de vós, pela intercessão de S. Josefina Bakhita e de São Daniel Comboni.”
–Os superiores provinciais, de delegação e os membros da Direcção Geral dos Missionários Combonianos, reunidos em Roma–
CF, Quaresma e Vida cristã
A quaresma, tempo de graça e bênção, tempo de oração (…) e de partilha de bens e gestos solidários, de atenção misericordiosa com os pobres e necessitados. A liturgia continua convidando-nos à sobriedade e ao despojamento do supérfluo (…) na oração e na caridade. (Testo base da CF, nº 14-15)
Conclusão
“Você que jejua, não esqueça que fica em jejum o seu campo se jejua a sua misericórdia; pelo contrário, a liberalidade da sua misericórdia encherá de bens os seus celeiros. Portanto, você, para que não venha a perder por ter guardado para si, distribua aos outros para que venha a recolher; dê a si mesmo, dando aos pobres, porque o que deixar de dar aos outros, também você não o possuirá”. (S. Pedro Crisólogo, séc. V)
Por isso, convidamos você a unir-se ao papa Francisco, aos missionários combonianos do mundo inteiro, através de seu compromisso de oração e doação em favor do povo martirizado do Sudão do Sul.
NOME: Província dos Missionários Combonianos do Brasil
CNPJ: 27.120.062/001-93
BRADESCO – Agência: 02199-7 * Conta: 000599-1
BANCO do BRASIL – Agência: 6969-8 * Conta: 9891-4