
Combonianos e o Tráfico de Pessoas
Para nós Combonianas é significativo e carismático trabalharmos com a realidade do tráfico dos seres humanos, pelo fato de que o nosso fundador, São Daniel Comboni, combateu no seu tempo a escravidão. Foi no início do século XX que Comboni enfrentou o tráfico das pessoas africanas que eram vendidas como se fossem mercadorias. Ele, a diferença dos traficantes, as comprava, mas para fazê-las estudar e dessa forma libertá-las. Isso era como uma gota no oceano, mas se tornava a gota da esperança ou uma pequena luz que deixava transparecer a bondade de Deus para suas criaturas. Comboni não podia fazer isso com todo o povo, porém não era o número que contava, mas a atitude e o compromisso com a vida.
Em pleno século 21, infelizmente, essa realidade continua com as armadilhas do tempo atual. Tráfico dos seres humanos para exploração sexual, trabalho escravo, venda de órgãos, casamento servil, adoção ilegal, e outros… Essa prática acontece em todos os continentes e pode ocorrer com qualquer pessoa sem diferença de sexo, idade ou cultura. O lucro com o tráfico de pessoas ocupa o terceiro lugar depois das drogas e das armas, mas na realidade está interconectado.
No Brasil, em 2014 após a Campanha da Fraternidade que abordou esse tema, a Conferência dos/as Religiosos/as (CRB) iniciou uma rede chamada “Um Grito Pela Vida”, que hoje está presente em todos os estados brasileiros e seria o equivalente à rede internacional “Talita Kum”. O que fazem é resgatar as vítimas e denunciar os traficantes, sobretudo trata-se de um trabalho de prevenção e sensibilização.
0 8 de fevereiro, dia de Santa Josefina Bakhita, foi escolhido pela Rede “Um Grito Pela Vida”, para ser dia internacional de oração, pedindo sua intercessão por essa causa. Bakhita sofreu as dores da escravidão. Até que foi comprada por uma pessoa da Europa que a levou para a Itália e mais tarde se tornou religiosa.
Comboni e Bakhita nos ensinam que não podemos ficar de olhos fechados, por medo, ignorando o problema até o ponto de, às vezes, afirmar que o tráfico não existe. Temos que nos unir, ajudar, encontrar parceiros para nos tornarmos mais fortes e eficazes. É preciso colocar a “Vida” em primeiro lugar e amparar as pessoas mais vulneráveis, vítimas da pobreza, as minorias étnicas, crianças, adolescentes, mulheres. Somos chamados a nos informar e a sermos expertos. Somente criando uma rede sólida e em parceria com quem trabalha com os direitos humanos, poderemos contribuir para que essa rede do mal seja desmontada, e a vida volte a valer para todas as pessoas em qualquer lugar do mundo.
Caterina Ingelido, irmã comboniana