Como converter minha fé em Amor, nesta Quaresma?
Com a celebração da quarta-feira dia 1 de março, os cristãos católicos do mundo inteiro marcados pela cinza na testa, iniciam oficialmente o tempo quaresmal, um dos tempos litúrgicos da Igreja católica. Mas qual é o significado da quaresma na vida da Igreja e de cada cristão? Porquê as cinzas?
Que é a Quaresma? Origem e evolução
Do latim, quadragésima dies, a quaresma é o período de quarenta dias reservado para a preparação da Páscoa. Na Igreja primitiva, era o último tempo de preparação para o batismo dos catecúmenos que iam ser batizados na vigília pascal. Esse período era marcado por retiro e catequese intensiva.
No século IV, houve uma mudança na concepção deste tempo. Ao invés de ser somente um tempo de preparação reservado aos catecúmenos, a quaresma passou a ser um tempo de preparação para toda Igreja.
Ainda no século IV, deu-se início à prática do jejum e abstinência de alguns alimentos, como a carne, sobretudo nas sextas-feiras. Mas com o tempo a prática foi atenuada, reduzindo-se aos requisitos mínimos: convite a jejuar na quarta-feira de cinzas e sexta-feira santa, e a abstinência de carne nas sextas-feiras da quaresma.
No século X, a cinza foi introduzida como símbolo que dá início ao tempo quaresmal. Mas porque a cinza foi introduzida na prática quaresmal?
Porque se inicia a Quaresma na quarta-feira de cinzas? Qual é o significado da cinza?
Até o século VII, a quaresma começava num domingo, quarenta dias antes da quinta-feira santa. Quando se contava os dias, notava–se que eram quarenta e dois dias. Além disso, tendo em conta os domingos, durante o qual o jejum é interrompido, o número de dias da Quaresma até à Páscoa era inferior a quarenta. Então, para permanecer fiel ao número 40, simbólico na Bíblia (40 anos do povo judeu na travessia do deserto, o jejum de 40 dias de Cristo no deserto…), o início da quaresma foi mudado pelo papa Gregório Magno para quarta-feira, encerrando-se no sábado santo. Assim nasceu a Quarta-feira de cinzas. Mas qual é o significado das cinzas?
Na Bíblia, especialmente no antigo testamento, a cinza é símbolo do pecado e da fragilidade humana (Sabedoria 15, 10; Ezequiel 28, 18; Malaquias 3, 21). Se cobrir de cinzas é mostrar sua dor na prova, mas também é manifestar a sua consciência e seu arrependimento do pecado (Judite 4, 11-15; Ezequiel 27, 30), mostrar a sua esperança na misericórdia de Deus. É por isso que durante a celebração das cinzas, as testas do clero e dos fiéis são marcadas com um pouco de cinza e, ao mesmo tempo, o celebrante lembra que “somos apenas pó” e, portanto devemos trabalhar para encontrarmos Deus através da conversão. A cinza enfatiza assim o significado deste período. Ela nos relembra que devemos durante este tempo voltar para Deus inteiramente através da penitência, da introspecção e da conversão.
3 pilares do tempo quaresmal
A Quaresma é um tempo favorável que a Igreja nos oferece para vivermos a penitência, a verdadeira conversão (em grego metanoia significa mudança de mente). Refere-se, assim, a uma série de ações internas e externas para reparar o pecado cometido e as suas consequências para o ser humano. Portanto, é preciso mostrar com práticas externas o nosso desejo interno de conversão. Na igreja, três formas clássicas de manifestações de penitência são pedidas para os cristãos no tempo quaresmal. São as principais boas obras que, segundo a tradição judaica, tornam o homem reto diante de Deus: o jejum, a esmola e a oração.
- O jejum
Literalmente, jejuar significa ficar sem comida por um tempo. Mas na Igreja, jejuar tem também um significado espiritual. Jejuar significa negar as coisas que são caras para nós para compartilhar com os outros, é praticar a caridade, a justiça (Is 58, 4-7) sem outra intenção que a de se aproximar de Deus e do outro (Mt 6, 18ss).
A esmola consiste em atos de caridade e de solidariedade para com aqueles que sofrem. Estes atos podem incluir, por exemplo, alimentar os famintos, dar água a quem tem sede, vestir os nus, acolher na sua casa o estrangeiro, visitar os presos e doentes.
Somos convidados durante a quaresma a rezar com mais frequência para fortalecermos a nossa relação com Deus e com outros, e superarmos as tentações. É preciso então dedicar um pouco mais do nosso tempo na oração e na escuta da Palavra de Deus a nível pessoal e comunitário. Concretamente, podemos, por exemplo, dedicar trinta minutos de meditação pessoal diária a partir de um texto bíblico (recomenda-se o Evangelho do dia), participar regularmente das missas ou celebrações na sua comunidade e, rezar o terço e ou fazer outros tipos de devoção, participar da campanha da fraternidade.
O que nos é pedido na Quaresma 2017 pelo papa?
Todo ano para ajudar-nos a viver este tempo forte da nossa caminhada espiritual pessoal e comunitária, o papa nos manda uma mensagem com um tema bem definido. Por este ano, o tema escolhido pelo papa Francisco é “A Palavra é um dom. O outro é um dom”. Com este tema, o papa quer convidar-nos a redescobrir o valor da palavra de Deus que é a base de todos os meios santos (jejum, oração e esmola) que a Igreja nos propõe para intensificarmos nossa vida espiritual.
“Particular preocupação – disse o Papa – provocam as notícias dolorosas provenientes do martirizado Sudão do Sul, onde, a um conflito fratricida, se junta uma grave crise alimentar que atinge a região do chifre da África, condenando à fome milhões pessoas, incluindo muitas crianças. Neste momento, é mais necessário do que nunca o empenho de todos para não ficar apenas em declarações, mas para tornar real a ajuda alimentar“.
O texto bíblico em que Francisco fundamenta a sua mensagem é a parábola do homem rico e do pobre Lázaro (cf. Lc 16, 19-31). Esses versículos de Lucas, segundo o papa, ‘nos dão a chave para compreender como temos de agir para alcançarmos a verdadeira felicidade e a vida eterna, incitando-nos a uma sincera conversão.
O primeiro convite que nos faz esta parábola é o de abrir a porta do nosso coração ao outro, porque cada pessoa é um dom, seja ela o nosso vizinho ou o pobre desconhecido. A Quaresma é um tempo propício para abrir a porta a cada necessitado e nele reconhecer o rosto de Cristo. Cada um de nós encontra-o no próprio caminho’, afirma o papa.
Além disso, através desta parábola percebemos que A Palavra de Deus é uma força viva, capaz de suscitar a conversão no coração dos homens e orientar de novo a pessoa para Deus. Fechar o coração ao dom de Deus que fala, tem como consequência fechar o coração ao dom do irmão.
Vivamente que nutramo-nos da Palavra de Deus cheguemos a reconhecer nos nossos irmãos, sobretudo os mais pobres, Jesus Cristo e servindo os, mostramos o nosso desejo profundo de conversão. Que Nossa Senhora da Conceição Aparecida, a nossa mãe interceda por nós, em Seu ano jubilar.