Comunidades ribeirinhas: diversidade, hospitalidade e cultura em meio a desafios sociais e ambientais
Fui destinado ao norte do Brasil. Em Calama, RO, fiquei por cinco anos maravilhosos, no meio das comunidades ribeirinhas da região do Baixo Madeira. Calama foi a minha primeira missão. Meu primeiro amor!
Calama é um distrito habitado por pessoas que migraram na segunda metade do século XIX, retirantes da seca que assolava o sertão nordestino. Povoaram as margens dos rios Madeira, Machado e Preto.
Hoje, quase todas as pessoas trabalham como funcionários públicos, outros se dedicam à pesca artesanal, à extração de castanha do Pará, óleos vegetais e ouro.
Calama está numa região privilegiada pela sua exuberante diversidade de vegetação, pela cultura talentosa e artística do povo, pela hospitalidade das pessoas; porém, se depara com grandes dificuldades e problemáticas sociais.
Durante cinco anos passei longas horas navegando, visitando as comunidades ribeirinhas, ajudando na formação de lideranças, organizando retiros e jornadas missionárias com os jovens e adultos da comunidade, celebrando os sacramentos e compartilhando a fé.
Promovemos atividades de aproximação entre todos, celebrações da vida através de encontros recreativos, e ao mesmo tempo criando espaços para adquirir recursos para a manutenção e desenvolvimento das comunidades.
Como Jesus fala na parábola do trigo e do joio plantados na comunidade, também em Calama existe a realidade precária no meio da sua beleza. Na área da saúde, a comunidade conta com uma Unidade Médica de atendimento, que não consegue atender às necessidades da população ribeirinha. Às vezes fica por meses sem médico e sem recursos para atender casos frequentes como o da picadura de cobra e as malárias.
Na área da educação, não é diferente. Neste ano, já passaram seis meses e a maioria dos estudantes não iniciaram as aulas por falta de gasolina e vencimento para o transporte escolar.
Em anos passados conseguimos fazer encontros de conscientização com as lideranças do distrito e mobilizar a comunidade para reivindicar seus direitos. Batemos às portas da prefeitura e conseguimos que os recursos chegassem.
Percebemos que a união faz a força e a perseverança na comunidade.
Agora compreendo que o Reino de Deus passa e se realiza através da simplicidade de vida, no estar presente nos acontecimentos e nas necessidades da comunidade, no reivindicar os direitos para as pessoas viverem dignamente, na preservação do meio onde vivemos e quando respeitamos a vida.
O amor de Cristo passa por nós quando visitamos um doente, quando consolamos alguém triste pela perda de um ser querido; quando, como Jesus, partimos e compartilhamos o pão.
Jorge Benavides mccj