Coração Ecumênico e Força do Axé, por Patrícia Mutanu
Coração Ecumênico e Força do Axé
Compartilho algo da grandeza e da generosidade do Candomblé, que é profundamente transformador e dá sentido a muitas vidas, tal como aconteceu comigo, no dia 29 de junho, na Festa de Xangô do Axé Ilê Obá, em São Paulo.
No dia da festa ao Orixá que é o principal patrono daquela Nação de Candomblé, Mãe Paula, Yalorixá principal da Casa e seus filhos me chamaram de Yá (mãe em Yorubá) e ela me reverenciou diante de todos. Eram quase quinhentas pessoas nesse dia no Terreiro que é tombado pelo Patrimônio histórico pela sua importância. Eu me tornei “Ya” para aquela Nação pelos serviços à humanidade como professora de História da África. Por ter ensinado a muita gente, por me dedicar a esse caminho. Na quarta feira ao visitar o Ilê fui saudada e acolhida como a Ya (mãe) que vem visitar os filhos e filhas. Me faltam palavras para expressar a emoção que sinto quando as Yalorixás, as Mães de Santo, me saúdam dessa forma. É como se eu fosse irmã delas na maternagem do mundo. Não tenho conhecimento ou iniciação na religião. Não fiz a longa caminhada de fé e perseverança que um devoto percorre para servir aos Orixás e viver a sua espiritualidade. Nem de longe fiz as renúncias, sofri os racismos, aquele espiritual e os diários por ser uma pessoa negra do Axé. Mas essas pessoas gigantes da fé e de humanidade me chamam de Mãe e me pedem a Benção. Eu as abençoo com a fé que tenho na Divindade e no Amor. É tudo que tenho. E as sirvo me colocando como professora, me disponibilizando a ensinar, a ouvir e ajudar as pessoas a encontrarem a felicidade, através dos Estudos.
Partilho essa vivência para que a nossa busca por Ecumenismo, pelo Diálogo e pela Fraternidade possa incorporar essa imensa generosidade e sabedoria do Candomblé de acolher e reverenciar os que eles consideram um bem para toda humanidade. Lindo de ver, incrível de aprender. É transcendental receber essa homenagem e tanto amor.
Patrícia Mutanu
(Mutanu é Patrícia Teixeira Santos, docente de História da África da Universidade Federal de São Paulo)
NOTA: Aos 53 anos de vida e aos 35 anos do exercício sagrado do Magistério, recebi um nome de origem africana para trazer renovação, propósito, alegria e realização. Mutanu (a Alegre). No preparo desse nome poder vir ou não, imaginava mil possibilidades ou nenhuma, porque poderia não vir. Foi um processo bonito mesmo. E então chegou a revelação tão doce e feliz: há um nome e esse é a Alegre. Corresponde tanto ao que existe em mim, como uma missão a se dedicar: cultivar a alegria. Os sobrenomes de família seguem. E Mutanu entra no RG e na vida como nome social e presente espiritual. Então é com alegria que me apresento a você: Oi, sou Patrícia Mutanu.💓🌍🥰🍀👑🌸🌷🪽✨