Creio na ressurreição dos/as vivos/as ou, melhor ainda, nos/as vivos/as que vivem como ressuscitados/as
“Jesus está aqui para me dizer: Eu sou o vivente, vencedor da morte”. Estas palavras foram pronunciadas por Dietrich Bonhoeffer, pastor luterano, vítima da perseguição nazista durante a Segunda Guerra Mundial. Fez esta afirmação quando estava num campo de concentração. Faltavam poucos dias para sua execução numa câmara a gás. Vivia imerso numa trágica experiência de violência e morte, produto da folia de “seres (des)humanos” que perdem o contato com a própria humanidade a partir do momento em que optam pelo ódio. Qualquer um/a de nós estaria tomado/a pelo desespero. Mas ele encontra na fé a força para dar seu testemunho no Deus da vida que nunca abandona seus filhos nas garras da morte. Sua postura é diferente daquela dos saduceus do tempo de Jesus que, inspirados na lei do levirato (Dt 25,5-10), procuram ridicularizar a crença na ressurreição dos mortos (Mc 12,18-27). Jesus lhes responde acusando-os de não entenderem a Sagrada Escritura, pois a interpretam conforme suas convicções e para sufragar seus interesses no lugar de acolhê-la e meditá-la a partir do ponto de vista de Deus. Culpa-os também de não acreditarem na potência de Deus que não é o exercício do poder como nós o entendemos, muitas vezes colocado a serviço de projetos de morte, mas é seu jeito de agir cheio de vitalidade, fecundidade e novidade, sempre em favor da vida. Ele é todo-poderoso porque pode tudo, inclusive aquilo que parece humanamente impossível e racionalmente inexplicável como derrotar a morte A ressurreição é a consequência natural de um Deus que é vivente. Não fez e nem conhece a morte. Vive desde sempre e para sempre e faz viver eternamente suas criaturas com quem partilha Seu Espírito. Ela não é uma simples reanimação da vida biológica e uma continuação da vida mortal, mas um estado de vida em plenitude junto com Deus. Nós não nascemos para morrer, mas para viver para sempre. A vida não termina no nada, pois teria o gosto do absurdo. É loucura gerar para a morte. Gera-se sempre para a vida. A morte biológica é só uma etapa. Para os que creem no Senhor, a vida não é tirada, mas transformada, e desfeito o nosso corpo mortal, nos é dado nos céus um corpo imperecível (Liturgia). Não dá para saber como será, pois ninguém voltou para contar sua experiência. Mas podemos ter alguns indícios de “Vida do Eterno” graças ao testemunho de quem, como Bonhoeffer, vive, desde já, como “ressuscitado” optando pelo Deus da vida e pela vida do poco.
Não gosto da ideia de esperar a ressurreição apenas após a morte. Gostaria muito que começasse imediatamente. Desejo um mundo inundado pelo Espírito do Ressuscitado. Sonho com uma humanidade amada por Deus, abraçada por sua ternura e revestida da sua graça, respirando profundamente a Vida do Eterno, celebrando desde já a vitória definitiva sobre a cultura da morte e garantindo a vida a todos/as em plenitude.
Creio na ressurreição dos/as vivos/as ou, melhor ainda, nos/as vivos/as que vivem como ressuscitados/as. Admiro as pessoas que, seguindo os passos de Jesus de Nazaré, vivem a serviço da vida. Confio naqueles/as que não esperam a Ressurreição apenas como meta, mas fazem dela um modo de vida. Admiro os/as cristãos/ãs que não veem a Vida Eterna como uma recompensa a ser conquistada após a morte em troca de um punhado de boas ações, mas como um projeto que começa desde quando se vem à luz do sol e culmina no esplendor da Glória de Deus.
Viver como ressuscitados/as significa ritmar a própria existência segundo o sopro do Eterno: amados/as e amantes; preciosos/as aos olhos de Deus e humildemente dobrados/as aos pés alheios numa atitude de serviço; feitos/as para sermos grandes na medida em que nos tornamos pequenos e simples como crianças; sedentos/as de justiça e cheios/as de misericórdia; dotados/as de potencialidades e talentos e cada vez mais ricos graças à partilha; frágeis, mas ao mesmo tempo fortalecidos/as pela Graça…
Se vivêssemos assim, não haveria tantas cruzes no mundo e, mesmo aquelas que são inevitáveis, se tornariam mais suportáveis porque as pessoas que as padecem certamente encontrariam um Cireneu disposto a tomar conta delas.
(pe. Xavier Paolillo, missionário comboniano)