
Das favelas de Tondo para a Companhia de Bailado de Manila
Das favelas de Tondo, Manila, esta moça de 18 anos conquistou um lugar na cena internacional, como bailarina profissional e competitiva.
Em Tondo, a maior favela em Manila, à volta de um dos maiores aterros sanitários (lixeiras), conhecida por ‘Montanha Fumegante’, as pessoas vão para a lixeira em busca de comida ou de qualquer coisa que possa ser reutilizada.
Jessa Balote tinha 10 anos quando começou a ganhar a vida como catadora. Como suas companheiras, a Jessa acompanhava os seus pais, indo de casa em casa para catando lixo, que depois vendiam para poder comprar a comida para o dia seguinte.
Um dia, a Fundação Cristã Filipina (PCF, em inglês) deu a Jessa a oportunidade de melhorar a vida, através de uma bolsa de estudo da instituição fundada pela britânica Jane Walker. Ainda assim, depois das aulas, a Jessa continuou a ajudar os pais, desde as 8 às 10 da noite, catando lixo. Quando ela se matriculou como aprendiz no ‘Projeto Futuro Ballet’ (PBF, em inglês), de Lisa Macuja-Elizalde, conseguiu finalmente ver-se livre de catar lixo.
Seguindo os passos do irmão mais velho, que também estava nas duas instituições (PCF e PBF), Jessa começou por sentir medo, mas logo foi fascinada pelo ballet. “Oh, o meu ‘kuya’ (kuya significa irmão mais velho, em tagalog) estava a dançar e eu pensei, Ele já é um ator”, diz Jessa, ao recordar a primeira vez que viu o irmão no ballet.
Pouco a pouco, Jessa interessou-se e quis aprender como o seu irmão e os outros conseguiam dançar harmoniosamente nos píncaros e como conseguiam facilmente rodopiar no palco. Antes de começar no ballet, Jessa tinha treinado danças folclóricas e outros tipos de dança mais comuns na sua idade.
“Eu me senti motivada pelo meu ‘kuya’. Na prova seguinte para os membros do ballet (PBF), ele ensinou-me as posições elementares e ajudou-me a praticar. Fiz tudo para passar na prova pois eu tinha medo que o meu irmão me envergonhasse em casa”, conta ela.
Aos 10 anos, Jessa foi admitida e integrou o grupo principal de 25 aprendizes do PBF os quais receberam treino gratuito de ballet clássico no Ballet de Manila, tendo como professora Macuja-Elizalde, a bailarina filipina Nº 1. Ao primeiro grupo também foram entregues os trajes de dança, sapatos de ballet e comida adequada, como parte da bolsa de estudo.
Após 7 anos de treino, Jessa é uma dos dois aprendizes do grupo original de 25 que continuam. É também uma das melhores estudantes da fundação PCF. Olhando para trás, Jessa disse que se não tivesse sido o ballet, ela teria sido uma aluna normal. “Se eu não tivesse a oportunidade de aprender ballet, tinha apenas continuado na escola e continuado os estudos. Se não fosse o ballet, não tinha conseguido ir a outros países atua, como faço agora”, disse.
Desde que entrou no ballet em 2008, Jessa já dançou uma grande variedade de peças incluindo o Lago dos Cisnes, Pinóquio, Dom Quixote e Cinderela. Aos 14 anos, foi finalista do Grande Prémio da Ásia, 2012 em Hong Kong e atuou em Macau um ano depois. Já neste ano, atuou em Londres durante um evento de recolha de fundos em favor da fundação PCF. Os professores de ballet da Jessa viram nela potencial e inscreveram-na na companhia de ballet de Manila, adquirindo direito a uma remuneração mensal da mesma companhia. O que recebe da companhia de ballet de Manila e outras doações espetáculos ocasionais veio reforçar as receitas da família. Assim, Jessica conseguiu dinheiro para o pai investir num negócio de venda de peixe e convencer a mãe a deixar o trabalho de catadora. Duas das suas irmãs, contudo, continuam como catadores a fim de melhorar a situação económica da família.
Para além da projeção que conseguiu, Jessa aprendeu os valores da disciplina e do respeito a partir do ballet. “Precisamos de disciplina para aprender. Mesmo quando apenas um de nós comete um erro, nós começamos desde o início. Também temos que respeitar os nossos professores e os nossos companheiros de dança pois sem respeito, não podemos aprender nada”, remarca ela.
O treino que recebeu e os valores que absorveu mostram um alcance muito maior do que as paredes da escola de ballet. Mesmo sendo uma bailarina profissional, Jessa ainda sonha com a conclusão dos seus estudos para um dia se tornar professora. Ela quer ensinar Matemática, Ciências e Inglês.
“Quero ir para a universidade sem deixar para trás o ballet. Quero ensinar e também continuar com o ballet, pois gosto muito de ballet. Posso também ser professora de ballet e sonho com a minha própria escola de ballet um dia, onde possa ensinar dançarinos pobres como eu”, garantiu.
“Sempre que olho para trás, me admiro como fui capaz de chegar onde estou agora. Eu era simplesmente uma catadora e no entanto consegui entrar nas aulas de ballet que somente dançarinas com possibilidades económicas podiam pagar”, disse.
“Tudo me parecia um sonho. Eu somente queria aprender. Mas recebi muito mais do que simples treinamento porque estou começando a fazer a diferença para o futuro da minha família”.