
De falar sobre a fome para falar de fome: a importância do testemunho pessoal
Falamos sobre a fome ou falamos de fome?
Em muito se fala sobre os números da fome, os impactos sociais da fome e projetos para reduzir o número de pessoas com deficiência alimentar.
E eu? Falo sobre algo que vi na tv, que li nas redes sociais ou falo de algo que senti, que passei ou que passo?
Quando falo de fome, carrego em minha fala as dores e os sentimentos de ter passado fome ou de estar passando fome. Falo com propriedade e tristeza. Sou testemunho deste provo sofrido e desprezado. Falar de fome é trazer um relato de descaso do poder público, de indiferença da sociedade e menosprezo daqueles que não passaram fome. A fome torna-se algo pequeno para quem não passou por ela. Chega-se a culpar quem sofre pela fome, como quem nada fez (ou faz) para não estar nesta condição.
Falar sobre a fome é um tato simples e cômodo. Somente quem fala de fome, conhece as palavras e as dores que brotam em um corpo fraco e debilitado.
Por Tranquilo Dias,leigo missionário comboniano