Desistir, Nunca!
Nas comunidades às quais Mateus dirige seu Evangelho se respira um clima de decepção. Apesar do ardor missionário, não conseguem grandes resultados. O ambiente em que atuam é hostil. Convivem o tempo todo com a rejeição e a perseguição. Com o intuito de animá-las, Mateus as aproxima de Jesus através da memória daquilo que Ele disse e fez quando esteve no meio de nós.
Através de parábolas, o Mestre revela que o aparente fracasso do Reinado de Deus, a recusa da sua mensagem e a hostilidade contra seus mensageiros mais que desanimar a igreja devem, ao invés, fortalecer sua coragem, sua ousadia profética, seu zelo missionário, seu compromisso e seu testemunho, pois, é precisamente na perseguição e na provação que se revela o poder e a verdade da Boa Notícia. Como dizia São Oscar Romero, “uma igreja que não sofre perseguição, mas gosta dos privilégios e apoio das coisas da terra – cuidado! – Não é a verdadeira igreja de Jesus Cristo. Uma pregação que não aponta o pecado não é a pregação do evangelho. Uma pregação que faz os pecadores se sentirem bem, para que eles estejam garantidos em seu estado pecaminoso, trai o chamado do evangelho”. Uma das dinâmicas mais difíceis de compreender e aceitar do Reinado de Deus é que ele não acontece pela via do sucesso, mas pelo caminho doloroso da tribulação. A sua instauração na vida das pessoas e nas estruturas da sociedade é sempre um processo sofrido, cheio de contradições e, sobretudo, de conflitos. Segue dinâmicas diametralmente opostas àquelas que acompanham os grandes acontecimentos da história. Vem de baixo e não de cima. Apesenta-se com traços de pequenez e fragilidade. Tem predileção pelos pequenos, pobres e pecadores. Sua acolhida exige que se jogue fora tudo o que o “mundo” considera decisivo para o sucesso do ser humano: poder, dinheiro, prestígio pessoal, ganância e competição. Apesar de apontar o caminho da plenitude da vida é pisoteado e sufocado. Mas, apesar de tudo isso, vai acontecendo. À luz do mistério pascal, sabemos por certo que o fracasso e a morte não terão a última palavra. Deus, apesar da hostilidade do mundo, conseguirá realizar o seu sonho. O amor vencerá. Bem-aventurados/as aqueles e aquelas que tomam distância das multidões enfatuadas e alienadas e se aproximam de Jesus para afinar o coração, os olhos e os ouvidos ao calor, à luz e ao som da Sua Palavra, pois terão condições de se surpreenderem com os sinais da ação misericordiosa de Deus na história. Mesmo se são poucos/as numericamente, fazem a diferença por causa da coerência entre vida e Evangelho. Constituem o fermento, o sal e aluz do mundo. Pena daqueles e daquelas que se obstinam a fechar os olhos e os ouvidos aos apelos do Senhor; que o seguem por interesse; que se deixam levar pelo entusiasmo, mas o abandonam nas primeiras dificuldades; que não conseguem abrir mão do que têm para segui-lo e, portanto, perdem a grande oportunidade de suas vidas. Para eles/as, porém, não está tudo perdido. Ainda tem esperança, basta acolher o convite ao arrependimento e à conversão. A Palavra tem o poder de fazer novas todas as coisas. “A pedra pode tornar-se uma terra fértil, a estrada pode deixar de ser pisoteada por transeuntes e tornar-se um campo fértil, os espinhos podem ser arrancados e permitir que a semente dê frutos livremente” (São João Crisóstomo). A fecundidade da semente, na verdade, não está ligada ao tamanho do fruto, mas à qualidade do acolhimento. O simples fato de o Senhor escolher cair no sulco de nossas vidas (seja feito de espinhos ou pedras ou da aridez da estrada) já é motivo de esperança contra toda esperança. Com efeito, a parábola do semeador fala-nos de um Deus que tem um coração generoso. Mesmo sabendo que o seu amor pode não ser aceito e, portanto, pode ser desperdiçado, não cessa de despejá-lo abundantemente. Mesmo diante da mais manifesta resistência e mesmo diante da mais dura oposição, Deus não para de investir(se) na nossa felicidade.
(pe. Xavier Paolillo, missionário comboniano)