Despedida de Padre que amava violão, havaianas e futebol
“Bom de Missa, Bom de Bola”. Assim foi definido, há muitos anos, o nosso amigo padre Carlos Bascaran Collantes, nascido na Espanha, que se dedicava à missão comboniana no Brasil há mais de 40 anos. Seu jeito próprio deixa uma marca profunda em muitas e muitos de nós. Juntos damos graças a Deus pela sua vida!
Pe. Carlos que viveu sua Páscoa esta quarta feira, dia 22 de setembro
O intenso dia da despedida
Caros irmãos,
Encerra-se um dia difícil, mas de profunda humanidade e fraternidade entre nós.
Despedimo-nos de pe. Carlos com muito carinho, desde o gesto sacramental de pe. Xavier hoje pela manhã, acariciando o rosto dele com o óleo da unção dos enfermos, até os cuidados de pe. Roberto na recepção do corpo, no hospital, e a despedida final no cemitério, com a presença de pe. Joaquim.
Ir. Chico, ainda débil (mas já recuperado da Covid), acompanhou rezando de casa. Todos nós também, em comunhão.
A família de Carlos, da Espanha, pôde seguir em oração o enterro, graças a uma transmissão vídeo organizada pelas lideranças de Santa Rita.
A despedida foi breve, mas intensa e digna. Presidida por dom Delson, bispo da Paraíba, com a participação de cerca de 50 pessoas da paróquia.
Haverá celebração de sétimo dia no domingo: poderemos também nós celebrar em comunhão, em cada uma de nossas comunidades.
Eu visitarei a comunidade de Santa Rita e celebrarei com eles, expressando a solidariedade de cada um de vocês e reforçando nossos vínculos, em horas difíceis.
O Missionário jovem que sempre uniu missa, futebol e música
Testemunhos de todos os quadrantes
Está sendo muito bonita a série de lembranças, memórias, reflexões que vocês partilham, especialmente no grupo whatsapp.
Estamos pedindo a algumas pessoas que foram mais próximas a Carlos se querem escrever algo como recordação e despedida. Se alguém mais quiser fazê-lo, é bem-vindo/a.
Mais abaixo podem ver uma fotografia da despedida de hoje, no cemitério Vale da Saudade, perto de nossa casa.
A família de Carlos deseja que ele permaneça sepultado na terra onde ele deu a vida como missionário, e agradece muito a todos-as os profissionais que cuidaram dele em seus últimos dias.
O falecimento de Carlos está sendo noticiado pela mídia católica e civil da Paraíba e do Maranhão, os estados onde mais trabalhou.
Estamos recebendo muitas mensagens de condolência, solidariedade, agradecimento pelo exemplo de vida que Carlos deixou para nós e para o Brasil.
Escreveram-nos a Direção Geral dos combonianos em Roma; os combonianos das províncias de Espanha, Colômbia, Equador, México, Itália, China, Filipinas, Centro América, Centro África; as irmãs combonianas do Brasil e que trabalharam no Brasil, os LMCs do Brasil e da Espanha, os Grupos de Espiritualidade Comboniana (GECs), líderes de pastoral de Açailândia, São Luís e de todo o Maranhão, bem como de Fortaleza e do Espírito Santo, organizações como a Comissão Episcopal para Ecologia Integral e Mineração, o Observatório dom Luciano Mendes de Almeida, a rede Igrejas e Mineração, a REPAM, vários bispos: dom Odelir (Chapecó), dom Vilson (Imperatriz), dom Sebastião (Caxias), dom Vicente (BH), dom José (Manaus), dom Mário (Roraima), mons. Arellano (Ecuador).
Isso mostra o carinho que as pessoas têm para com pe. Carlos, os vínculos pastorais que ele teceu e a memória viva que ele deixa.
Nessas horas, parece que o tempo para: um filme passa dentro de nossas cabeças, cada um lembrando de cenas, encontros, momentos de alegria, celebrações, compromissos… Carlos confirma-se como um amigo, um missionário que teceu relações, viveu na simplicidade e radicalidade do Evangelho, tocou as cordas do coração do povo, brincou e sonhou nessa terra vermelha que pisou por tantos anos, de chinelo…
Todos estamos sentindo ele presente, próximo, companheiro. Alguns de vocês disseram: “vai ter música no céu!”; outros até imaginaram uma daquelas peladas de futebol, lá nas alturas 🙂
Com certeza, Deus o recebe de braços abertos e cheio de gratidão. Como deve ser bonito um reencontro desses!
Como foi dito, “Obrigado por tudo, e não esqueça de rezar por nós”.
Dario Bossi, comboniano em SP
Funeral no Vale da Saudade, perto de Santa Rita, PB
Sentir de um; sentimento de todos!
Hoje terminou a Via Sacra de pe. Carlos. Foi longa e dolorosa. Cada dia era uma estação que tinha como ponto central à tarde quando os médicos ligavam para informar seu estado. Nos primeiros dias parecia dar sinais de recuperação, mas com o passar do tempo o quadro foi se agravando. Confesso que ficava na expectativa de receber boas notícias, mas a cada dia os boletins médicos se tornavam cada vez mais desanimadores. Hoje tive a responsabilidade de levar a unção dos enfermos. Não foi fácil entrar no quarto e vê-lo naquelas condições. Algumas pessoas da equipe médica quiseram participar ao momento de oração. Ungi seu rosto acariciando-o. Queria ter esse contato físico com ele. Carlos sempre teve carinho comigo e o trabalho pastoral com as crianças, sobretudo com os adolescentes privados de liberdade. Mesmo sofrido, pois me dei conta que seria a última vez, senti que estava vivendo um momento de graça. Em nome da família biológica, da família comboniana e das famílias paroquiais que ele serviu, estava tendo o privilégio de despedir-me de um companheiro pobre, zeloso pela missão, generoso e, sobretudo, animado. É a primeira vez que me acontece de vivenciar isso em comunidade. Fiquei feliz de ver o cuidado do pessoal do hospital a quem agradeci pelo serviço prestado ao pe. Carlos.
O dia antes de levá-lo ao hospital, pe. Carlos me chamou para conversar. Parecia que já estava se despedindo. Passou-me algumas disposições. Com o pouco fôlego que lhe restava continuava falando dos pobres. Posso afirmar com toda certeza que, como sempre foi, suas últimas preocupações foram com os pobres, sobretudo, com as crianças do Projeto Legal, os/as catadores/as da cooperativa e os adolescentes privados de liberdade. Naquele momento fiz de tudo para mudar a conversa. Sugeri que ele acertasse tudo ao voltar do hospital, mas ele insistiu. E assim foi feito. Entre seus últimos desejos há uma bolsa de estudos para uma menina que cresceu na Pastoral do Menor desde os tempos de irmão Mario Fortuna e que agora é educadora do Projeto. Mayara já está cursando pedagogia. “investir na educação – me disse – é escancarar as cortinas do horizonte e vislumbrar um futuro melhor”.
No dia seguinte passamos no hospital pe. Zé onde fez o teste do covid e, orientados pela médica, fomos até o hospital da Unimed onde ficou internado até o último instante.
Carlos volta para a casa do Pai em ponta de pé, nu, pois a covid não permite nem vestir seu corpo mortal, mas entra rico no Céu da Graça de Deus que sempre o acompanhou e do amor aos pobres.
Eu sempre fico comovido com a liturgia das exequias, pois na despedida final a Igreja não invoca o apóstolo Pedro para abrir as portas do Céu, mas Lázaro, o pobre de outrora: “O coro dos anjos te receba e com Lázaro, o pobre de outrora, possuas o repouso eterno”. Então, companheiro Carlos, pode ir tranquilo e feliz da vida, cantando e tocando seu violão, pois os Lázaros que você serviu nessa terra, estão aguardando você para fazer festa. Até quando Deus quiser. Obrigado por tudo e não esqueça de rezar por nós.
Xaviel Paolillo, comboniano em Santa Rita
Padre Carlos no início da sua vida missionária
Temos mais um missionário da intercessão
Fotos: Arquivo Comboniano – Sem Fronteiras