
Deus aposta na nossa fraqueza para mudar o mundo
“O Reino de Deus é como a semente de mostarda, que um homem pega e atira no seu jardim… É como o fermento que uma mulher pega e mistura com três porções de farinha, até que tudo fique fermentado” (Lc 13,18-21).
É bonito esse jeito de Jesus fazer teologia. Fala das “coisas do alto” com uma linguagem bem terrena e caseira. Através de imagens simples tiradas do mundo da agricultura, apresenta o mistério do Reino de Deus, oferecendo motivos de sobra para reavivar nossa esperança e, sobretudo, estimular nossa colaboração. Apesar da pequenez de seus sinais e das adversidades da conjuntura, o Reino de Deus vai acontecer, sobretudo se o ser humano se dispõe a colaborar.
A parábola, de fato, não deixa dúvida: o ser humano é central nos planos de Deus. O que seria Seu Reino sem o homem que atira a semente na terra do seu jardim e sem a mulher que mistura o fermento com a farinha? Mesmo sendo todo-poderoso, não dispensa nossa ajuda. “O ser humano ocupa um lugar único na criação – afirma o Catecismo da Igreja Católica -. É «à imagem de Deus»; na sua própria natureza, une o mundo espiritual e o mundo material; foi criado «homem e mulher»; Deus estabeleceu-o na sua amizade” (CIC 355). O Pai não desiste de nós. Ele que criou o mundo sem nós, não o salvará sem nós, dizia Sant’Agostinho. Faz questão de contar sempre com nossa colaboração. Chama todos/as nós, cada um/a na sua condição, na sua vocação e no seu papel, para ajudá-lo a construir Seu Reino. Não se importa com os nossos “defeitos” e nossas “fragilidades”, pois Ele nos lapida com Seu Amor e nos habilita com Sua graça.
Que grande chamada! Deus aposta na nossa fraqueza para mudar o mundo. Ele nos pede somente de semear sua Palavra com generosidade e coerência. E nós podemos semear com confiança, pois temos a certeza de que o nosso serviço não será infecundo. O que sustenta o agricultor e a dona de casa nos seus afazeres cotidianos é justamente a confiança na força da semente e na qualidade do fermento. O Reino é de Deus. Tem qualidade divina. Podemos fazer nossa parte com fé e esperança, pois a semente da Palavra é eficaz, dará frutos abundantes. É a certeza do resultado final que sustenta o/a semeador/a no cansaço de cada dia, especialmente nas situações difíceis. A tal propósito escreve Santo Inácio de Loyola: “Aja como se tudo dependesse de você, sabendo bem que, na realidade, tudo depende de Deus” (Bento XVI).
A história dos santos e santas comprova quantos seja decisiva esta cooperação, sobretudo quando o homem e a mulher se tornam, com seu testemunho de vida, pequenas sementes e porções de fermento do Reino. Se São Francisco tivesse feito a caridade aos pobres, não teria mudado ninguém. Muitos fazem filantropia sem ser cristãos e sem marcar significativamente a história. Em vez disso, se fez pobre como Jesus. Encarnou o Evangelho. Despiu-se da cultura do mundo e vestiu o homem novo. Assumiu a lógica do Reino vivendo conforme as bem-aventuranças. Dessa forma, tornou-se uma pequena porção de fermento do Reino. Por isso, apesar de sua pequenez, leveda o mundo até hoje. “Assim é o Reino de Deus: uma realidade humanamente pequena, composta por quem é pobre de coração, por quem não confia na própria força, mas naquela do amor de Deus, por quem não é importante aos olhos do mundo; e ainda, justamente através da ruptura deles, explode a força de Cristo e transforma aquilo que é aparentemente insignificante” (Bento XVI). A nossa pequena força, aparentemente impotente diante dos problemas do mundo, se colocada naquela de Deus, consegue realizar grandes coisas, assim como aconteceu com Maria que acolhendo como “terra boa” a semente da Palavra de Deus, tornou-se fonte de esperança para todos nós. Não tenhamos dúvidas: a semente germina e cresce, porque o que a faz crescer é o Amor de Deus, cuja fecundidade nada e ninguém consegue impedir. Até a Paz, por quanto possa parecer impossível nestes tempos sombrios de guerra, germina se, acolhendo o Evangelho em nossas vidas, formos paz nas relações e nos espaços onde habitamos.
(pe. Xavier Paolillo, missionário comboniano)