
Deus chega aonde estamos
O relato da Anunciação do Senhor revela que Deus chega aonde estamos. Não onde Ele gostaria que estivéssemos ou nós desejaríamos de estar. Irrompe em nosso cotidiano, em tempos e espaços feriais. Pisa em nosso chão. Surge sem avisar. De surpresa. Sem dar o tempo de arrumar a vida e ajeitar as coisas. Vem despojado de prerrogativas divinas. Chega feito mendicante de amor. Entra não para fiscalizar, mas para trazer alegria: “Alegre-te, Maria” (Lc 1,28). Esse é Seu Evangelho. Não é outra coisa. Não é uma lista de preceitos obrigatórios, de cerimoniais protocolares, de regras que oprimem e de ameaças que assustam. É só alegria.
A razão de tudo isso é a Graça: “Não tenhas medo, Maria, porque encontraste Graça diante de Deus” (Lc 1,30). Seu “sim” nos precede. Antecede o nosso e é eterno. Não caduca nem vacila diante de nossas infidelidades. É a rocha sólida onde se apoia a nossa frágil resposta dada não por obrigação ou por medo, mas exclusivamente de graça.
Deus é assim. É graça. Não se merece. Só se acolhe. É ternura que abraça e sombra que protege. Amor gratuito e desinteressado em busca de amor. Vem a nossa procura para propor uma história de amor. Não dá detalhes. Nem explica como vai ser. Dúvidas surgem e medos aparecem. Dá até um frio na barriga. Deus só pede para confiar. É só deixar o Espírito tomar conta. A única certeza é que desse encontro entre o sim de Deus e o sim da humanidade o Evangelho vai tomar corpo. Vai se tornar gente. Vai ter nome e identidade. Vai se chamar Jesus, Emanuel, Deus que salva e fica conosco para sempre. Obrigado a Deus por ter escolhido Maria. E obrigado a Maria pelo seu SIM. (pe. Xavier, missionário comboniano)