DEUS NUNCA NOS PERDE DE VISTA
“Ficai atentos para não praticar a vossa justiça na frente dos homens só para serdes vistos por eles… O vosso Pai, que vê o que está escondido, vos dará a recompensa” (Mt 6,1-6.16-18)
Todos/as nós procuramos chamar a atenção das pessoas que nos cercam. Gostamos de ser vistos/as, admirado/as, aprovados/as, estimados/as, cuidados/as e amados/as por elas. Mas essa busca de aprovação não pode tornar-se uma obsessão. Como sempre, o ideal é buscar o equilíbrio.
É ruim tornar-se refém da opinião alheia, mas é igualmente perigoso descartá-la totalmente. Quem diz “não tó nem aí com o ponto de vista dos/as outros/as” corre o risco de trancar-se em si mesmo e gerar muitos conflitos de relacionamento. Ao oposto, quem é escravo/a da opinião alheia, além de revelar problemas de autoestima, pode sofrer desequilíbrios emocionais, ser sujeito/a a mudanças de humor a segunda dos pontos de vistas e entrar em depressão. Sobretudo quando a avaliação alheia é negativa.
“Dependemos do olhar do outro para descobrir quem somos, mas não podemos nos tornar alienados ao desejo alheio, sem conseguir alcançar o caminho da autonomia”, alerta o psicanalista Christian Ingo Lenz Dunker, professor titular do Instituto de Psicologia da USP).
Mas qual é o olhar que nos deve interessar mais e do qual não podemos fazer a menos? Aquele do Pai, responde Jesus no Discurso da Montanha. Se é tão importante a maneira como os/as outros/as olham para nós, ainda mais decisivo é o ponto de vista de Deus para conosco. Não é a visão do videomonitoramento em busca de falhas para julgar e condenar, mas é o olhar do cuidado. Deus olha com amor. Enxerga para além das aparências. Penetra no segredo do nosso coração para encontrar e valorizar o bem que nem nos mesmos sabemos de ter e conseguimos ver.
É o olhar luminoso que gera vida e nos mantém em vida. Não disfarça nem bajula. Diz a verdade de nós mesmos/as sem constranger ou humilhar. Por fim, é o olhar que nunca nos perde de vista, mesmo quando nós nos escondemos dele e os/as outros/as não dão a mínima para nós.
O olhar de Deus nos protege dos “maus-olhares” ou dos “olhares indiferentes” dos outros/as, mas também do nosso próprio olhar para conosco, ou excessivamente rígido e severo ou demasiadamente deformado pelo culto da personalidade. Valorize-o.
Pe. Xavier Paolillo, missionário comboniano