
Dia Mundial de Conscientização da Violência Contra o Idoso
Segundo a ONU, o país possui 33 milhões de idosos.
Um número muito expressivo e representativo em nossa sociedade. Pessoas que envelheceram e que, por este motivo, tiveram suas vidas ajustadas à esta nova realidade. Os passos agora não lentos, para quê tanta pressa? O consumo agora é menor, para quê tanto acúmulo? Os momentos de felicidade agora são muitos, para quê perder tempo com coisas? Agora, se pode dar ao luxo de caminhar ao lado dos amigos, cultivados ao longo de décadas, tomar um café sem pressa, sem hora marcada.
Mas, esta realidade não faz parte da vida de todos esses milhões de idosos. Deveria. Uma boa parcela deste contingente não pode se dar ao luxo de desfrutar de sua velhice com tranquilidade, respeito e carinho.
Para muitos, a jornada de trabalho começa cedo. Devido às limitações físicas, são relegados aos trabalhos mais indesejados e os que remuneram menos, afinal, eles possuem uma aposentadoria. O desrespeito começa já no ponto de ônibus. As pernas estão bambas quando se esforçam para subir no coletivo, atrasando a fila que se forma atrás deles. Assentos prioritários, destinados aos idosos, são ocupados por todos, principalmente por aqueles e aquelas que gostam de dormir e só despertam no momento exato de descer. A jornada continua. Precisa ajudar no sustento da família, a pagar a pensão alimentícia do filho que não consegue emprego, ou até mesmo, ajudar a pagar o cartão de crédito da neta que consome mais do que ganha.
Temos uma velhice de pouca, ou nenhuma, expectativa de melhora. Sem ocupações para os seus dias, cultivam doenças de todas as ordens. Sem políticas públicas adequadas e efetivas, nossos idosos convivem com os males da idade numa exaustiva rotina de UPA em UPA, de hospital em hospital.
Os jornais e sites de notícias, com uma frequência alta, registram os casos que mais repercutem em que os idosos sofrem violência física, psicológica e/ou patrimonial. Sem contar com o abuso financeiro, que é, para muitos, algo esperado e até obrigatório que o idoso faça para ser aceito dentro de casa.
A violência contra o idoso assume formas de discriminação e negligência. Deixados de lado, abandonados em asilos, estão diante de uma realidade não esperada por eles. A omissão de cuidados fragiliza ainda mais a vida e a saúde do idoso. A carência afetiva acaba por provocar o surgimento de um quadro clínico que o leva à morte. O Estatuto do idoso – Lei nº 10.741/2013 – é um instrumento importante e decisivo na busca de justiça para estes casos. Um norteador para ações públicas no amparo destes homens e mulheres que estão vivendo seu momento de desfecho, de prólogo, da vida.
Em uma sociedade que prioriza o hoje, o imediato, a jovialidade e a capacidade de consumir, acaba por tornar a vida do idoso, principalmente os mais pobres, uma clausura e tem a morte como a única perspectiva diante da vida. Lutar por aqueles e aquelas que já lutaram e hoje, estão sem força. Gritar por aqueles e aquelas que já gritaram muito para defender direitos e por justiça. As pessoas que ainda possuem força e vontade devem pensar em seu futuro e assegurar, ainda hoje, para os idosos e idosas de hoje, uma qualidade de vida que seja a mesma que deseja ter quando a velhice se fizer presente em suas vidas.
Por Tranquilo Dias – Leigo Missionário Comboniano