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Direitos humanos e periferia

A presença evangelizadora nas periferias urbanas é uma das prioridades para nós Missionários Combonianos do Brasil, em sintonia com a Congregação que, desde 2009, assumiu Justiça, Paz e Integridade da Criação (JPIC) como prioridade continental.

Isso é tão verdade que a formação de base dos jovens missionários se dá nas periferias, assumindo um estilo de vida caracterizado pela inserção e sobriedade.

Aproximamo-nos do mundo das grandes cidades iluminados pela prática de Jesus que nasceu e viveu na periferia do Império, partilhando a vida dos excluídos do seu tempo. Jesus lutou contra todos os males que estragam a vida e contra todas as formas de opressão que impedem a abundância da vida (Jo 10,10).

São Daniel Comboni sempre escolheu os últimos e os mais abandonados para fazer causa comum com eles, defendendo-os de todo tipo de escravidão.
O Papa Francisco convida a aproximar-nos dos “não-cidadãos” e dos “sobrantes” produzidos hoje em dia pelas grandes cidades.

Situação social

As desigualdades socioeconômicas acabam gerando, no mesmo perímetro urbano, duas cidades: o centro e a periferia. O centro é o lugar onde se tomam as decisões politicas, econômicas, culturais e religiosas; as periferias são o espaço em que sobrevivem aqueles e aquelas que são mantidos a distancia, destituídos do acesso aos direitos humanos e à informação.

A violência urbana é uma constante na sociedade brasileira, cuja democracia ainda não está plenamente consolidada. À medida que o crime foi se tornando tema cada vez mais presente no cotidiano do cidadão e na mídia, o Estado se transformou num agente importante de combate ao crime, o que muitas vezes implicou e implica grave violação dos direitos humanos.

Falar em direitos humanos hoje é falar também no enfrentamento do crime: uma política de segurança pública adequada deve estar conectada com sólidas políticas de direitos humanos, garantindo habitação, alimentação, educação, saúde. Uma parte substantiva da população brasileira vive no mundo da ilegalidade de vários tipos: a dos terrenos ocupados, a do mundo do trabalho informal, a do mercado ilegal de remédios e assim por diante. E essa ampla inclusão na ilegalidade supõe uma exclusão do contrato social, o que sem dúvida acrescenta forte ingrediente ao caldo da violência atual.

Naturalmente, a grande maioria das pessoas que vivem excluídas nas imensas periferias brasileiras desejaria sair dessa situação; mas o próprio fato de estarem nela frequentemente as torna reféns do crime organizado.
A soma de fatores como a ausência de instituições de proteção social, um contingente muito grande de população jovem, o congestionamento habitacional e a degradação do espaço social público abre caminho para a chegada do crime organizado, para o tráfico de drogas e para a violência tanto de grupos da sociedade civil como da própria polícia.

Atuação da Igreja

Todos esses fatores nos levam a uma diversidade de experiências e ações missionárias que abrangem:

  • A presença inserida em bairros pobres e junto à população afrodescendente e aos catadores de material reciclável;
  • O acompanhamento de entidades que lutam pela defesa e promoção dos direitos humanos;
  • A participação e, em alguns casos, a coordenação de pastorais sociais específicas, que atendem às pessoas privadas de liberdade, às crianças, adolescentes e jovens em situação de vulnerabilidade social e aos dependentes químicos, entre outros;
  • A valorização das culturas periféricas através de projetos de fortalecimento da identidade, da capacitação e transformação da realidade.

Em geral, tudo isso é realizado prevalentemente buscando a interação com um contexto eclesial que favoreça a formação de ministérios eclesiais e lideranças sociais, o trabalho em rede e em cooperação com outras forças sociais presentes no território, a consciência e atuação política, a ligação entre fé e vida e a espiritualidade libertadora.

A missão comboniana investe na articulação com todas as forças sociais que acreditam nesse processo de transformação sistêmica. Colabora com os movimentos sociais, sindicatos e organizações de defesa dos direitos humanos, grupos de pesquisa acadêmica e todos os atores que podem fortalecer essa ação e ampliar os horizontes de incidência.

O povo das periferias urbanas é lutador, criativo, religioso, capaz de sobreviver e de vencer todo tipo de dificuldade. Ama a vida, sustenta e fortalece a fé e a esperança dos combonianos e combonianas chamados a se encarnar também nas periferias urbanas de hoje.