Do coração trespassado de Cristo bom Pastor, nasce a Igreja missionária
Nesta solenidade, normalmente celebrada na terceira sexta-feira depois de Pentecostes, encontramos uma típica festa de devoção, que venera o Homem-Deus Jesus Cristo do ponto de vista do seu amor infinito pela humanidade, simbolizado no coração. É a devoção ao coração de Cristo crucificado, transpassado por uma lança, que se desenvolve na piedade dos séculos XII e XIII. Já no final do século XIII, esta devoção foi organizada de forma distinta da da paixão.
Mais tarde, no século XVI os jesuítas e no século XVII os oratórios franceses fizeram sua esta devoção ao coração de Jesus e favoreceram o seu culto. O oratoriano João Eudes (+1680) é o primeiro a celebrar, no seio da sua comunidade e com autorização do Bispo de Rennes, uma festa em honra do Coração de Jesus (20 de Outubro de 1672). As aparições de Santa Margarida Maria Alacoque (+1690) da ordem da Visitação em Paray-le-Monial, nas quais Cristo a instruiu a trabalhar para a introdução de uma festa do Coração de Jesus na sexta-feira após a oitava de Corpus Domini, e para a prática das primeiras sextas-feiras do s. Coração e Hora Santa.
Roma se opôs a esta iniciativa por cerca de 100 anos. Somente Clemente XIII em 1765 concedeu a festa aos bispos poloneses. Pio IX em 1856 o introduziu obrigatoriamente para toda a Igreja. Leão XIII em 1899 elevou sua posição e ordenou, para o início iminente do novo século, a consagração do mundo ao Sacratíssimo Coração de Jesus.
O coração é o centro íntimo e primordial da totalidade psicossomática da pessoa. O objeto de devoção ao Sagrado Coração é, portanto, o Senhor em relação a este seu coração. Enquanto as formas de oração anteriores eram caracterizadas pela paixão de Cristo e pela mística do Cântico dos Cânticos, os textos de Pio XI em 1928 enfatizam mais o pensamento da expiação e expressam a questão de que fazendo de Cristo “a homenagem de nossa fé, cumprem também o dever de uma justa reparação”.
A Missa do novo Missal retoma em grande parte os textos de Pio XI. Novo é sobretudo o texto do prefácio, que tem uma particular inspiração escriturística e patrística: “Levantado na cruz, no seu amor sem limites deu a sua vida por nós, e da ferida do seu lado derramou sangue e água, símbolo dos sacramentos da Igreja, para que todos os homens, atraídos pelo Coração do Salvador, bebam com alegria da fonte perene da salvação”. O mesmo novo Missal Romano de 1970 enriquece a forma Cogitationes de Pio XI com nove leituras bíblicas distribuídas ao longo de três anos. O tema predominante nestas leituras é o amor revelado e dado em Cristo Jesus.
Dom Joseph Ndoum