Dom Pedro Casaldáliga sobre as Comunidades Eclesiais de Base
Nos encontramos em uma conjuntura histórica importante para a Igreja Brasileira, com a realização do 15º Intereclesial das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), que ocorre de 18 a 22 de julho de 2023, na cidade de Rondonópolis – MT. Este encontro é uma expressão de fé e ação comunitária que celebra e fortalece a presença viva da Igreja nos corações e vidas do povo brasileiro.
Neste contexto, é oportuno refletir sobre o legado de Dom Pedro Casaldáliga, figura inesquecível da Igreja Latino-Americana. Conhecido por seu compromisso fervoroso com os pobres e marginalizados, Dom Pedro foi uma voz inabalável na luta pelos direitos humanos, especialmente na defesa dos povos indígenas e trabalhadores rurais. Como um defensor incansável das CEBs, ele deixou um importante patrimônio teológico e pastoral.
Revisitamos hoje um trecho de seu diário, datado de agosto de 1986, onde ele compartilha suas intuições e perspectivas sobre as Comunidades Eclesiais de Base. Suas palavras ressoam profundamente, especialmente neste momento de celebração e reflexão. Ele escreveu:
“Anoto algumas intuições, algumas constatações, certas perspectivas, em relação às CEBs, aqui, em nossa Igreja, mais especificamente:
• Uma verdadeira CEBs deve estar aberta, na elasticidade do povo e do Espírito, sem fronteiras policiadas;
• Saber jogar (jogo de Deus) entre as exigências evangélicas e a tolerância misericordiosa;
• Educar o povo para exercício do poder, político e eclesial, para que seja sujeito;
• Distinguir sempre entre o fundamental e o secundário. Em relação às pessoas, fidelidade aos compromissos;
• Multiplicar as boas celebrações, tornando-as alavanca da comunidade viva;
• Ter consciência, vontade e posição para fazer com que a Igreja aconteça;
• A CEBs será, em todo caso, um jeito, modo, ar, vontade, comunitário, eclesial, popular e comprometido de ser;
• Uma comunidade autêntica se apropria da Palavra e a anuncia, celebra a fé, vive seus compromissos de Igreja e de sociedade, se articula e assume o poder;
• No poder, torna-lo colegiado, em comunidade e rotatividade, com responsabilidades específicas. Respeitando os carismas pessoais e os líderes antigos. Evitando a elitização, mas dando uma espécie de “oficialização colegiada”;
• Dar cobertura aos mais comprometidos politicamente, para alimentá-los na fé;
• Ajudar a interligar as lutas no núcleo de um projeto popular (político e eclesial);
• “Onde há povo, há líder”, dizia Lênin. “Todos somos líderes”, diz Dom Luiz Fernandes, no sentido de que se deve pensar mais em comunidade que em liderança. Tudo o que pode ser feito por um grupo não deve ser feito pelos líderes. Diante da sociedade e da Igreja piramidais e autocráticas, devemos estimular o espaço e o esforço comunitário.”
Este trecho do diário de Dom Pedro Casaldáliga ressalta a essência e a importância das CEBs, sendo uma inspiração contínua para todos nós neste caminho de fé e ação comunitária. Que possamos refletir profundamente sobre estas palavras durante o 15º Intereclesial das CEBs e continuar a busca por uma Igreja cada vez mais inclusiva, participativa e próxima ao povo.
Informação partilhada pelo Pe. Raimundo Rocha.
Arte: Tonny Cálices