
Dor, silêncio, oração e ação ante as notícias de Suzano SP
Perante as notícias da escola de Suzano, SP quem não sentiu dor e indignação, diante das crianças e das mães vítimas da violência? As mais diversas emoções afloraram e todo o tipo de perguntas continuam ainda, entre as imagens e vídeos circulando pelas redes sociais e na TV, em especial na Globo. Uma reação digna perante o luto e a dor é o silêncio. Mas não podemos ficar por aí!… Veja a seguir.
O tempo da quaresma foca nossa atenção na pessoa e no exemplo de Jesus. O próprio papa Francisco nos convida a ver como nos deixamos tomar por forças adversas que acabam destruindo as relações familiares, a sociedade e a terra ou criação. Os enfrentamentos de tendências opostas na sociedade e na igreja não vêm de Deus. Precisamos olhar para nós mesmos e reorientar nosso ser pessoas e nossa humanidade. Tudo o que vem acontecendo no Brasil e no mundo é complexo e exige discernimento, humildade, reflexão e muita luz do Espírito Santo. Em especial a tragédia ocorrida na escola de Suzano, pede mais a mim e a você!…
DIANTE DA TRAGÉDIA, O SILÊNCIO!
“Gente, estão circulando nos grupos e nas redes sociais imagens do terror ocorrido hoje em uma escola de São Paulo que deixou muitas vítimas. Por respeito às vítimas e seus familiares, não publiquemos esse tipo de imagem. São muito dramáticas e muito fortes, inadequadas para serem publicadas e uma forma de desrespeito. Façamos uma oração pelas vítimas e suas famílias. Força, São Paulo. Nossa solidariedade a vocês. Também nosso repúdio a toda forma de violência, circulação e uso de armas que causam morte e sofrimento. Brasil, paz!”
Obrigado, Raimundo por sua chamada à calma e seu apelo à razão e à paz. É uma primeira reação totalmente compreensível, perante o desrespeito e a incontrolada emotividade e revolta, relativa ao violento ataque dentro da escola de Suzano, acontecido na grande São Paulo. Claro que todo o mundo fica meio atordoado… perguntando-se: “Como é possível chegar a tal nível de barbárie? … o que está realmente acontecendo?!”
Não muito depois recebemos a reação do Xavier que renovou o convite, indicando algumas pistas, como segue.
“Diante da tragédia de Susano, opto pelas seguintes posturas:
- Recusar-me a repassar as imagens e os vídeos que estão sendo veiculados nas redes sociais em respeito às vítimas e seus familiares.
- Solidarizar com todas as pessoas que foram atingidas pela tragédia.
- Viver o luto em silêncio, sem pressa de fazer análises e tirar conclusões, adiando as devidas reflexões para momentos de lucidez.
- Pedir a Deus o Espírito de discernimento e, sobretudo a criatividade para encontrar os caminhos necessários para a superação da violência.
- Reforçar os vínculos com todas as pessoas e instituições que prezam pela defesa e promoção da vida, pois somente unidos teremos força suficiente para manter vivos/as crianças, adolescentes e jovens.”
MARIELLE FRANCO: A “LUZ NO FIM DO TUNEL” BRILHA A PARTIR DA PERIFERIA
Quando afirmamos que no Brasil há uma política de GENOCÍDIO da juventude pobre e negra e que a mesma é decidida e patrocinada longe das periferias para ser executada nas periferias, dizem que estamos delirando. O arsenal de dezenas de fuzis apreendido nestes dias não foi encontrado num barraco da favela e não estava em posse de jovens pobres e negros, mas com certeza iria ser utilizado para infernizar a vida das comunidades periféricas e derrubar jovens negros e empobrecidos numa guerra suja, como todas aquelas que acontecem mundo afora, provocadas para enriquecer os mercantes de morte e para criminalizar e eliminar os mais pobres.
A estratégia é a mesma no mundo todo: apresentar-se como “salvadores da pátria” e defensores dos “cidadãos de bem”. Selecionar o inimigo. Patrocinar campanhas massivas de criminalização dos mesmos e de seus “apoiadores”. Modificar “ad hoc” as leis para garantir legalidade a seus excessos e, para terminar em beleza, investir-se da missão divina de “fazer justiça”.
Para colocar esse plano em ação contam com vários aliados: administradores públicos corruptos e omissos; policiais desonestos; jornalistas amplificadores do ódio e da barbárie;religiosos que esquecem o Deus com entranhas misericordiosas e pregam um deus justiceiro em busca de vingança; pessoas alienadas que desistem de pensar com sua própria cabeça e seguem cegamente as (IN)verdades bombardeadas pelas redes sociais…
Ainda há esperança? Acredito que SIM. A mudança é possível. A “luz no fim do túnel” vem justamente da periferia. É a mesma que iluminou Marielle Franco e Anderson. É o brilho de mulheres e homens que não baixam a cabeça, não se dobram à lei do mais forte, perseguem corajosamente o caminho da cidadania… É uma luz ousada que coloca às claras a podridão que adora as trevas para se perpetuar. É uma luz que não adianta apagar. Ela se multiplica misteriosamente. Foi sempre assim com os/as mártires da caminhada. Os assassinos matam e tentam enterrar. O sonho deles é colocar uma pedra por cima para cair no esquecimento, mas, pelo prodígio da VIDA, militante que tomba por lutar por justiça floresce, se multiplica, aduba nossas resistências enfraquecidas com uma boa dose de resiliênciae acaba incomodando ainda mais.
Militante que entrega a vida para a cultura da paz, continua vivo/a nas pessoas que recolhem o legado e continuam a luta com mais ousadia.
O Pe. Raimundo Santos é missionário comboniano e trabalha na comunidade de S. Luís, MA
O Pe. Xavier Paulillo é missionário comboniano e trabalha na comunidade de S. Rita, PB
Fotos: pixabay e interne