
Dr. Joaquim, um farmacêutico além do seu tempo
Eu cresci ouvindo as histórias que minha mãe contava sobre o Dr. Joaquim. Histórias divertidas, outras dramáticas, tinha até história que eu nem posso contar aqui como a da mulher que comeu uma melancia inteira, sim, inteira. Até os caroços.
Mas Dr. Joaquim, ao contrário do que eu imaginava, não era médico. Era um farmacêutico. Lá pelas bandas do Resplendor (MG). De um simples ferimento na perna até partos, lá estava o Dr. Joaquim atendendo a quem lhe procurava. Tinha sempre disponível um remédio de laboratório ou preparado por ele, em casa. Dr. Joaquim deve ter vivido uns 140 anos, beirando os 180. Era que as muitas histórias não seguiam uma cronologia. Minha mãe dizia que quando ela era criança, já era tratada por ele. Depois, tratou das minhas irmãs. Depois vinha uma história do Dr. Joaquim com o meu avô, ainda um rapaz das bandas de São Manoel do Mutum (MG). Ela ria quando eu dizia essa história do Dr. Joaquim ainda estar atendendo o povo de Resplendor.
São personagens como o Dr. Joaquim que transformam a vocação em vida, vida vivida. A dedicação, a vontade de ajudar, a presença cotidiana na vida daqueles que não conseguem ter acesso aos tratamentos modernos, a exames complexos e, nem mesmo, a um profissional da medicina. Lá está o farmacêutico, conhecedor das químicas e dos males, colocando-se ao lado de quem o procura. Seja para uma conversa ao pé do ouvido, ou mesmo, para esclarecer alguma informação no laudo do exame.
Este profissional da saúde está sempre por perto. Dedicado ao seu trabalho com remédios e medicamentos. Procura de forma efetiva alívio para as dores, do corpo e da alma. Não se importando com o relógio que se destaca na parede branca, o farmacêutico atende sem pressa. Ri das histórias engraçadas, fica sério ao ouvir sobre as dores, aperta a mão com firmeza nos dedos e doçura no olhar. A responsabilidade e o compromisso com a sociedade se fazem presente a cada novo atendimento por trás do balcão. Alguns até aboliram o balcão para estar mais próximos dos clientes e das clientes que ele chama pelo nome, cada um e cada uma. Respeitando o jeito de ser de cada.
No dia internacional dos farmacêuticos, meu profundo respeito e consideração pelos profissionais que fazem saúde mesmo com toda pressão da indústria farmacêutica, mesmo com a jornada exaustiva de trabalho, mesmo sem o devido reconhecimento, mesmo com a intolerância. Mas, mesmo assim, são muitos os vocacionados que colocam o seu jaleco e se transformam em Dr. Joaquim. Acolhendo a todos, vivendo sua profissão 24 horas por dia, todos os dias. Onde está, ali tem um agente da saúde para cuidar de nós.
Por Tranquilo Dias,leigo missionário comboniano