“E esta é a vontade do meu Pai – diz Jesus –: que eu não perca nenhum daqueles que Ele me deu, mas os ressuscite no último dia” (Jo 6,39)
Deus não gosta de perder, mas não é porque é orgulhoso como eu, mas porque ama. Está disposto a perder tudo de si, mas não as pessoas por Ele amadas. Por amor de nós, o Deus todo-poderoso se faz perdedor, fracassado, derrotado. Perde suas prerrogativas divinas e se faz servo. Perde os familiares, os amigos de infância e seus conterrâneos porque parece uma loucura o que ele diz e faz. Perde tempo conosco, sai atrás de nós, encara qualquer dificuldade para nos trazer de volta para Sua casa. Perde o sucesso e o poder, pois não veio para isso, mas para fazer a vontade de Deus. Perde sua reputação por se sentar à mesa com publicanos, prostitutas e pecadores. Perde a pureza ritual por aproximar-se dos leprosos e, como não bastasse, perde sua própria vida para nos salvar. Paga um preço alto por nós. É por isso que insiste com Jesus para que não perca nenhum daqueles que lhe confiou. Como gostaria de ajudá-lo nessa missão para amenizar seu sofrimento materno e paterno. Sinto que fui chamado para isso, mas como é difícil! Perco todo dia e não me conformo. Até quando as coisas parecem bem encaminhadas, de repente, tudo volta à estaca zero. Perco para o crack, para a cocaína, para a maconha, para as facções… perco para o descaso e a corrupção que sucateiam as políticas públicas. Perco para esta porcaria de sistema que pensa só no dinheiro em detrimento da vida. Perco para as redes sociais que espalham mentiras e fortalecem preconceitos. Perco para o ódio que envenena a sociedade e nos coloca contra. Todos estes dragões são mais fortes do que eu. Arrancam de minhas mãos vidas humanas que Deus criou com tanto gosto e as devastam até a morte. Todo dia perco para a morte adolescentes e jovens que foram confiados aos meus cuidados. Ao acumular tantas perdas, fico com vontade de desistir, mas, todo dia, ao celebrar a Eucaristia de madrugada, descubro que Deus nunca me perde de vista. Ele é o alimento que sustenta minha luta, Sua presença infunde em mim segurança, conforto, perseverança e esperança. Na nossa oração de hoje, peçamos ao Senhor que nos ajude a não descartar ninguém e trabalhar em rede para que ninguém seja excluído através da pedagogia da presença, acolhida e do amor. Pois é essa a vontade de Deus. Tem ainda muitos cristãos que pensam em converter pessoas ameaçando catástrofes e apocalipses. Voltemos ao essencial, como o Papa Francisco sabe fazer, voltemos a dizer às pessoas que encontramos que Deus é bom como um pedaço de pão que satisfaz de verdade e que só n’Ele encontramos a paz, só n’Ele encontramos medida e forma para a nossa vida, sentido e plenitude nos momentos em que nos sentimos perdidos. (Pe. Xavier Paolillo, missionário comboniano)