É impossível seguir Jesus sem assumir os riscos (Lc 14,25-33)
“Qual de vós, querendo construir uma torre, não se senta primeiro e calcula os gastos, para ver se tem o suficiente para terminar? Caso contrário, ele vai lançar o alicerce e não será capaz de acabar. E todos os que virem isso começarão a caçoar, dizendo: ‘Esse homem começou a construir e não foi capaz de terminar’” (Lc 14, 28-29).
Desapegar-se de si mesmo e de seus afetos, renunciar a tudo e carregar a cruz são as exigências que Jesus demanda de quem quer ser Seu discípulo. Segui-Lo não é uma excursão. Não bastam bons propósitos ou um entusiasmo fugaz. É um caminho exigente que comporta assumir muitos riscos. Não dá para encará-lo de qualquer jeito. Precisa ter preparação à luz de Seu Espírito e uma boa dose de perseverança. Quem vai atrás d’Ele somente na onda da emoção tem “vocação” curta como fogo de palha e quem O procura para encontrar sossego ou ganhar prestígio erra de endereço. Cantar “eu vou na barca de Jesus…” na bonança é muito fácil. Encarar as ondas e os ventos contrários durante a travessia pelas águas tumultuadas do mundo é um desafio que só é possível enfrentar se a escolha de aceitar o convite a segui-Lo foi “calculada” conforme a matemática de Deus e foi solidamente enraizada na rocha da Sua Palavra. Jesus não gosta de mediocridade. Não suporta as coisas deixadas pela metade. Ou é tudo ou é nada. Ou é quente ou é frio. Ou é SIM ou é NÃO. Não existe NIM. Ele não gosta de adesões imaturas, precipitadas ou, pior ainda, calculadas a partir dos próprios interesses. Deseja “marinheiros” que largam o “porto seguro” e ousam velejar para águas mais profundas, discípulos dispostos a sair do comodismo e abrir mão da própria segurança afetiva, econômica e física para encarar a “missão difícil”. Quer respostas livres e maduras, bem ponderadas, prontas a carregar a cruz que não é a metáfora dos sofrimentos que a vida nos proporciona, mas o ícone do AMOR que, em plena consciência, se arrisca até doar a vida. Carregar a cruz, portanto, não é “mortificar-se” e “sacrificar-se”, porque Deus não é um sádico que gosta de ver a gente sofrer, mas é dizer SIM À VIDA DO ETERNO, é aderir consciente e livremente ao Seu jeito de amar, é deixar-se fecundar por essa nova vitalidade que vem do Seu Espírito, correndo o risco de renunciar a si mesmo, entrar em conflito com seus afetos mais queridos, ser hostilizado até dentro da própria instituição, renunciar a tudo e “perder” a vida pelas mãos de quem não tem apreço pela Vida.
Tudo isso não é fácil. O risco de acomodar-se e, sobretudo, de acovardar-se é muito grande. Pedimos-lhe o suporte da Sua Graça. Sentados aos pés da sua Cruz, busquemos coragem na oração: “Senhor Jesus, para revelar o mistério do Reino de Deus, Tu assumiste muitos riscos! Tu arriscaste a eternidade no tempo, Tu arriscaste o invisível num rosto de homem, Tu arriscaste o divino num corpo humano. Tu arriscaste a Palavra na fragilidade das nossas palavras, Tu arriscaste a Bondade de Deus na banalidade dos gestos cotidianos. Tu inclusive te arriscaste a ser mal interpretado e desfigurado. Senhor, desde a Tua Encarnação, como Te seguir sem assumir riscos? Dá-me o gosto pelo risco e a coragem de tomá-lo com toda a lucidez. Dá-me a coragem de arriscar o meu coração, minha inteligência e minha razão, arriscar meus bens, meu futuro e minha reputação, arriscar a hostilidade, a indiferença e inclusive a cruz. Mas tantos riscos, Tu o compreendes bem, pedem reflexão; tantos riscos merecem que eu tome o tempo para me sentar e acolher, no silêncio da oração, Teu Espírito, fonte e força das minhas escolhas, para verificar os fundamentos! Concede-me a graça de construir a minha vida sobre a Rocha da Tua Palavra, de permanecer na Tua Presença, de começar e terminar a obra da minha vida Contigo” (Michel Hubaut). Coragem. Tenham um bom e abençoado dia.
(Pe. Xavier Paolillo, missionário comboniano)